Segundo a Cruz Vermelha do Líbano, pelo menos 100 pessoas morreram em consequência de uma forte explosão que aconteceu no porto de Beirute nesta terça-feira (4). O número de vítimas pode aumentar ainda mais, pois muitas pessoas ainda estão sob os escombros.
Os danos são avaliados em bilhões de dólares e a tragédia será uma prova de resistência para a economia libanesa, pois o principal porto do país foi totalmente destruído com todos os produtos armazenados no local.
O governo do país já anunciou que os estoques nacionais de grãos devem durar somente até o final do mês e o comércio do produto não será mais realizado no varejo. Especialistas libaneses, consultados pela Sputnik Árabe, confirmam que o país vive uma situação dramática.
Perdas e danos
O economista libanês Bassem Ajaqah destacou que os prejuízos econômicos da tragédia podem ser divididos em dois grupos principais: infraestrutura e produtos.
"Os prejuízos à infraestrutura ou prejuízos diretos se referem a todos os valores móveis e imóveis danificados ou destruídos durante a explosão. Nessa categoria incluímos a completa destruição do porto de Beirute. Segundo os nossos cálculos, o valor será muito superior a US$ 100 milhões [R$ 529 milhões]", disse Ajaqah à Sputnik Árabe.
O especialista também destacou a destruição irrecuperável de outros produtos armazenados no local, o que deve afetar a economia nacional.
"Prejuízos, em primeiro lugar, se referem à destruição completa de estoques de produtos, farinha e grãos. Podemos incluir aqui problemas logísticos de transporte dos produtos no futuro, pois o porto da capital recebia e embarcava até 70% de todos os produtos nacionais", afirmou o economista.
A catástrofe também provocará o fechamento de empresas que ficavam localizadas nas instalações destruídas, ou que dependiam delas. Assim, milhares de pessoas perderão o emprego.
Por outro lado, alertou a economista Marwa Othman, Líbano não tem condições econômicas de reconstruir a cidade e a economia do país.
"Segundo dados preliminares, a reconstrução da capital vai custar US$ 30 bilhões [R$ 159 bilhões] aos cofres públicos. Acredito que essa cifra pode aumentar em algumas vezes. A cidade precisará ser reconstruída do zero. A escala da catástrofe, como podem ver, é impressionante. Líbano não consegue lidar com isso sozinho. Precisamos muito de ajuda, e o mais rápido possível. A explosão deixou o Líbano à beira do abismo", disse a entrevistada.
Problema maior do que parece
Líbano importa mais de 70% de matéria prima e de produtos para sua economia. Após a explosão, o principal "hub" logístico do país está em ruínas. Compensar essa perda a curto prazo será praticamente impossível.
O Ministério do Transporte anunciou na noite desta terça-feira (4) que um grande volume dos produtos agora será fornecido através do porto de Trípoli, na Líbia. No entanto, as capacidades do porto do país vizinho não são grandes. Segundo Bassem Ajaqah, as cargas também podem ser enviadas por Porto de Said no Egito e porto de Tiro no Líbano. No entanto, essas medidas não solucionam os problemas econômicos e logísticos.
"Mesmo se toda a carga puder ser distribuída entre os portos em Trípoli, Tiro e Said, as complicações serão inevitáveis. Em primeiro lugar, essas alterações demandam muitos recursos e tempo. Em segundo lugar, a capacidade desses portos não é grande. Isso significa que os volumes de importações no Líbano ficarão seriamente reduzidos. Em consequência, o país vai perder muito dinheiro", explicou o economista.
Por outro lado, Marwa Othman acredita que Líbano não possui recursos no momento para implementar mudanças em sua cadeia produtiva.
"Entendam bem, o nosso Estado está na bancarrota. Mesmo sem uma explosão em Beirute, o Ministério do Transporte não teria condições de realizar manobras logísticas desse tipo. Agora, menos ainda", disse a especialista.
Crise de abastecimento
O Líbano não possui uma produção agrícola suficiente para abastecer o país, em função das particularidades geográficas e climáticas. O porto de Beirute acumulava a função de depósito de grãos e outros produtos alimentícios. Em função da tragédia desta terça-feira (4), o país vive sério risco de desabastecimento.
"Infelizmente, temos todos os motivos para acreditar que o Líbano está chegando no mesmo nível de 1912, o ano de mais fome na história do país, quando centenas de pessoas morriam por inanição e não tinham meios para subsistência. Líbano não tem recursos para administrar a situação da segurança alimentar e ninguém vai fornecer grãos ou farinha de graça. Suspeito que outros produtos alimentícios também ficarão em falta logo", alertou Marwa Othman.
Para a economista, o país não vai conseguir se manter em pé sem ajuda da comunidade internacional para reconstruir a infraestrutura da capital e fornecer produtos de primeira necessidade.
"Devemos reconhecer que Líbano está à beira de uma catástrofe humanitária. O governo deve, sem demora, solicitar ajuda aos vizinhos e às organizações internacionais. O país pode simplesmente não sobreviver aos meses necessários para a reconstrução da cidade", concluiu.