A fortaleza do dólar pode chegar a seu fim em breve, e os anos de uma alta taxa de câmbio da moeda norte-americana podem ser substituídos por um período de baixas cotações, informa Bloomberg.
Segundo especialistas consultados pela Bloomberg, a situação atual se parece com a vivida nos anos 1984 e 2002. Nestes anos, uma mudança drástica da política monetária da Reserva Federal dos EUA provocara fortes impactos no fluxo de investimentos estrangeiros e enfraquecimento desta divisa.
"O dólar tem sido sobrevalorizado durante muito tempo, e isto poderia finalmente ser um catalisador para uma tendência descendente de vários anos", comentou à agência Jack McIntyre, da Brandywine Global Investment Management.
"Como temos visto antes, quando as valorizações aumentaram, um choque político ou econômico pode alterar rapidamente a trajetória da moeda [dos EUA] e isso é o que parece estar ocorrendo graças ao balanço inchado da Reserva Federal, ao aumento da dívida e à forma como manejamos a pandemia", acrescentou.
Contudo, os especialistas enfatizaram que neste momento é prematuro falar do colapso do dólar como principal moeda de reserva mundial, já que a moeda ainda representa mais de 60% das reservas globais e é a mais usada em transações entre diferentes países.
"Há uma diferença entre um retrocesso do dólar e um colapso completo", salientou Liz Young, funcionária da BNY Mellon Investment Management. "Isto é um retrocesso. É um pouco extremo pensar que o dólar vai perder seu papel de reserva no curto prazo", concluiu.
O dólar se encontra em uma trajetória descendente relativamente constante durante aproximadamente cinco meses e o índice Bloomberg do dólar, que caiu em seis das últimas sete sessões de negociações, está próximo de 10% abaixo do seu pico de março.
"Os ciclos do dólar são longos e persistentes, e agora estamos no extremo superior das valorizações", analisou Guillermo Felices, chefe de pesquisa e estratégia da BNP Paribas Asset Management, que prevê um retrocesso do dólar durante alguns anos.
Por sua parte, a Reserva Federal se comprometeu a manter as taxas próximas a zero nos próximos anos, enquanto os funcionários do banco central dos EUA buscam mitigar as consequências econômicas causadas pela pandemia.
Porém, seus esforços têm como obstáculo o fracasso dos EUA no controle do coronavírus, afirmam os especialistas.