Segundo boletim semanal da Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de novos casos do coronavírus nas Américas e no Brasil caiu na semana encerrada em 23 de agosto. No continente, foram 863.000 novos casos, 11% a menos que uma semana antes. Em relação aos óbitos, foram 24.000, número 17% inferior ao da semana anterior.
Para Guilherme Werneck, médico epidemiologista e professor do Instituto de Medicina Social da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), a constatação da OMS reflete o que os especialistas têm observado no Brasil. Ele ressalta, no entanto, que a queda ocorre após longo período de taxas diárias muito elevadas de mortes e casos.
"São três meses de uma pandemia persistente, em altos níveis, que assola toda a América Latina e particularmente o Brasil e a América do Norte. Após tanto tempo, é possível perceber que essa estabilidade esteja mostrando um certo grau de melhoria, no sentido de uma redução discreta no número de casos e óbitos", disse o especialista.
Por outro lado, Werneck ressalta que os dados não devem ser interpretados como uma "vitória" contra o coronavírus, pois "qualquer pequena queda não quer dizer que estamos resolvendo completamente o problema, que pode se arrastar por muitos e muitos meses".
'Qual vantagem de reduzirmos de 1.000 para 900?'
"Qual é a vantagem de reduzirmos de 1.000 óbitos por dia para 900? Claro que é uma melhoria, mas ainda é uma condição péssima, e não merece uma consideração de vitória sobre a epidemia. Ainda encaramos um problema gravíssimo que precisa ser enfrentado com a gravidade que o assunto merece", afirmou o epidemiologista.
Segundo dados do Ministério da Saúde divulgados na terça-feira (25), o Brasil registra 116.580 mortes e 3.669.995 casos da COVID-19. Além disso, a OMS indicou que as Américas continuam representando 50% dos novos casos e 62% das mortes no mundo.
Os Estados Unidos e o Brasil são os países mais afetados pela pandemia. Werneck culpa a administração Trump e Bolsonaro por números tão elevados. Segundo ele, os governos brasileiro e estadunidense atuaram de forma "equivocada, errática e sem programação, negando a epidemia", dessa forma se tornando "exemplos" de um combate equivocado à pandemia.
"O que precisa ser feito é um enfrentamento forte dessa epidemia em todos os níveis, federais, estaduais e locais, para que consigamos acelerar a redução do número de casos e mortes. Se deixarmos as coisas acontecerem da maneira que está acontecendo, com abertura desenfreada, com pouca testagem, pouca preocupação com a prevenção, a perspectiva é de continuarmos com muitos casos e óbitos, ainda que uma pequena redução aconteça", disse Guilherme Werneck.
Maior taxa de incidência do mundo
Em números absolutos, as Américas têm 12,2 milhões de casos da COVID-19 e 438.000 mortos, o que representa 1.823 casos para 1.000.000 de habitantes, a maior taxa de incidência mundo.
O médico epidemiologista Fernando Barros, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas, diz que os dados sobre redução podem ser verdadeiros.
"Chega um momento em que o número de pessoas que já tiveram a infecção, que têm anticorpos, aumenta bastante. E também as pessoas usam métodos de isolamento social e de cuidados, como máscaras, higienize pessoal, isso faz com que os casos diminuam e a mortalidade também", disse à Sputnik Brasil.
Imunidade de rebanho não foi atingida
Por outro lado, o especialista disse que essa redução não indica que o Brasil esteja adquirindo a chamada imunidade de rebanho, que ocorre quando uma parcela considerável da população já contraiu o vírus e a epidemia desacelera.
"Não chega a ser imunidade de rebanho, ou imunidade de população. O que tem acontecido, em Manaus e outros lugares no Norte, é que caiu bastante a mortalidade, então as pessoas relaxam as medidas de distanciamento social e volta a haver infecção. Primeiro nos jovens, por isso a mortalidade não é alta, depois as pessoas mais suscetíveis se contaminam e volta a aumentar a mortalidade. Está voltando a aumentar a mortalidade em Manaus, Breves e Tefé porque as medidas sociais, que são as principais, não estão sendo acompanhadas", afirmou Fernando Barros.