Sputnik Brasil conversou sobre o tema com Márcio Neves Bóia, médico infectologista, professor de Doenças Infecciosas da Faculdade de Medicina da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), e diretor do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro. Para ele, se forem confirmados, os novos dados são motivo de otimismo e indicam a queda da disseminação e da reprodução do vírus.
"Realmente é um dado positivo, considerando as dificuldades de fazer essa estimativa. Pode ter acontecido por várias razões, mas podemos citar principalmente duas. A questão da doença estar se dirigindo agora para áreas com menor densidade populacional, fora dos grandes centros urbanos. Então a taxa de transmissibilidade da doença, ou de reprodutibilidade, tende a diminuir [...] Uma segunda causa, não necessariamente independente, é que o número de pessoas infectadas pode ter sido muito maior do que o número [inicialmente] estimado. Porque os testes rápidos e a investigação diagnóstica está sendo muito morosa", explicou o especialista.
Por outro lado, o médico alerta para um relaxamento prematuro de medidas de controle da doença "como uso de máscaras, higienização das mãos, diminuição de aglomerações".
"Isso é fundamental. O vírus vai ficar circulando durante muito tempo. Então essas medidas devem ser mantidas. [...] O relaxamento de medidas de isolamento mais amplo, como a volta às escolas, atividades que causam aglomeração, como estádios, shows, atividades culturais que levam à aglomeração de pessoas, eu acho que seria uma decisão temerária neste momento. A gente não tem base científica para dizer que pode liberar", afirmou Márcio Neves Bóia.
O infectologista destacou o alto número de mortes em consequência do coronavírus no Brasil e classificou a situação de "dramática", pois, segundo as previsões, mais de 100 milhões de pessoas ainda não foram infectadas. Ou seja, o número de óbitos deve aumentar no futuro, pois a vacina contra COVID-19 não ficará disponível no futuro mais próximo.
"Infelizmente esse número de mortos deve aumentar muito e possivelmente vai ultrapassar 200 mil no Brasil. Isso é uma tragédia, se compararmos com outros países no mundo, tirando os Estados Unidos, que com políticas sociais e de higiene conseguiram reduzir a mortalidade. Infelizmente o Brasil não tomou essas atitudes por motivos que são bem conhecidos e públicos e vamos ficar muito na dependência desse possível desenvolvimento da vacina que, infelizmente, por visão mais otimista que seja, acho que em menos de um ano ou ano e meio não vamos ter", afirmou o médico.