Rússia: o que o dia 3 de setembro representa para o país com mais vítimas do terrorismo da Europa

Neste dia 3 de setembro, a Rússia celebra o Dia da Solidariedade no Combate ao Terrorismo e marca os 16 anos do ataque terrorista à Escola Nº1 em Beslan, cujo alvo principal foram meninos, meninas e crianças de colo.
Sputnik

No dia 3 de setembro, a Rússia, país com maior número de vítimas do terrorismo na Europa, de acordo com dados do Global Terrorism Database da Universidade de Maryland (EUA), comemora o Dia da Solidariedade no Combate ao Terrorismo.

A data coincide com a primeira semana de aula, na qual milhares de crianças russas vão para a escola com os seus pais e professores para celebrar o início do ano letivo.

Mas há 16 anos, em 1º de setembro de 2004, o primeiro dia de aula ficou marcado para sempre por um dos ataques terroristas mais cruéis da história.

Naquela manhã, na cidade de Beslan, na região do Cáucaso, 30 terroristas fizeram 1.128 crianças, pais e professores reféns no ginásio da Escola Nº1 da cidade.

Os terroristas mantiveram os reféns sem água ou comida por três dias, em uma história que, no dia 3 de setembro, chegaria a um desfecho trágico.

Escola Nº1

Durante as festividades que marcavam o primeiro dia de aula da Escola Nº1 de Beslan, 32 terroristas do Batalhão de Reconhecimento e Sabotagem Riyadus-Salikhin da organização terrorista Mártires da Chechênia, liderados por Rasul Khachbarov, entraram atirando no pátio da escola e confinaram 1.128 reféns no ginásio.

Nos dois primeiros dias, os homens feitos reféns foram executados, restando mulheres, meninos, meninas e crianças de colo.

Durante três dias, os terroristas privaram os reféns de receber água, comida ou remédios.

Somente no terceiro dia, os terroristas permitiram que um grupo de funcionários locais evacuassem os cadáveres dos reféns que já haviam sido executados.

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Nesse trágico 3 de setembro, por volta do meio-dia, duas explosões foram ouvidas dentro do ginásio. Mulheres e crianças começaram a tentar escapar desesperadamente pelas janelas do recinto.

Grupo de Forças Especiais da Rússia invadiu a escola para capturar os terroristas. A troca de tiros durou até o fim do dia. O prédio da escola ficou parcialmente destruído.

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Ao todo, 335 pessoas faleceram, dentre elas 318 reféns, 186 dos quais eram crianças. Mais de 180 reféns e agentes das Forças Especiais ficaram feridos.

Além das feridas físicas, as 50 horas sob a mira de terroristas, sem comida ou água, causou grave trauma psicológico nos reféns. Mais de 1.315 pessoas foram afetadas pela tragédia de Beslan.

Dez agentes das unidades das Forças Especiais Alpha e Vympel também faleceram, além de dois funcionários do Ministério para Situações de Emergência e um residente da cidade, que forneceu apoio à operação de resgate.

Todos os terroristas foram eliminados, com a exceção de um, Nurpashi Kulayev, que cumpre pena de prisão perpétua na região da Ossétia do Norte.

Em dezembro do ano passado, durante reunião do Conselho Russo de Direitos Humanos, o presidente Vladimir Putin citou o atentado em Beslan como um dos momentos mais difíceis de sua presidência.

"Eu nunca vou esquecer […]. É uma dor enorme, para mim e para o país", disse o presidente russo.

O coronel Vladimir Silantev, veterano das Forças Especiais da Rússia que participou da operação de salvamento em Beslan, lembrou que a sociedade precisa combater o terrorismo coletivamente.

"No dia daquela tragédia [...] os combatentes das Forças Especiais, as mulheres, as crianças e os homens que estavam lá combateram juntos esse mal que é o terrorismo. São todos heróis", afirmou Silantev à Sputnik.

"[Beslan] também foi uma vitória", disse o também veterano, coronel Valery Popov, à Sputnik. "Uma vitória muito custosa, em um confronto com terroristas que ocorreu em condições horrendas. Mas as crianças, os pais e os combatentes saíram vitoriosos."

Ataque ao voo Metrojet 9268

Apesar dos avanços, a Rússia ainda enfrenta ameaça significativa por parte de organizações terroristas de diversas naturezas.

Em 31 de outubro de 2015, um Airbus que transportava turistas russos do norte do Sinai, no Egito, para a cidade de São Petersburgo, explodiu no ar, matando todos os 217 passageiros e sete membros da tripulação a bordo.

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Pouco após a tragédia, a filial do Sinai do grupo Daesh (organização terrorista proibida na Rússia) assumiu a autoria dos ataques.

Em novembro daquele ano, o Serviço Federal de Segurança da Rússia confirmou que a tragédia foi ocasionada por uma bomba improvisada contendo até um quilo de TNT que foi detonada a bordo da aeronave.

Em 26 de fevereiro de 2016, o presidente egípcio, Abdel Fattah el-Sisi, reconheceu a ocorrência do ataque terrorista em espaço aéreo egípcio.

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Na época, o presidente Vladimir Putin prometeu identificar e punir os responsáveis pelo ataque. Poucos dias depois, a Rússia intensificou campanha de bombardeios aéreos à cidade síria de Raqqa, então "capital" do autodeclarado califado da organização terrorista Daesh.

Ataque ao metrô de São Petersburgo

Em 3 de abril de 2017, um terrorista detonou explosivos entre as estações do Sennaya Ploshad e Tekhnologichesky Institut, no metrô da segunda maior cidade da Rússia, São Petersburgo. 15 pessoas faleceram e 130 ficaram feridas, física e psicologicamente, em consequência dos ataques.

Uma segunda bomba foi identificada e desativada na estação Ploshad Vosstaniya. O terrorista suicida Akbarzhon Jalilov havia sido treinado pela organização terrorista Daesh (organização terrorista proibida na Rússia), que então operava na cidade síria de Aleppo, concluiu o Comitê de Investigação da Rússia, em 2018.

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O comitê apontou o grupo Katiba al-Tawhid wal-Jihad (organização terrorista proibida na Rússia) como responsável por organizar os ataques. De acordo com as investigações, o grupo planejava um segundo ataque, a ser perpetrado no centro corporativo Moscow City, localizado na capital russa.

"Existe uma real guerra contra a Rússia hoje, quando o assunto é terrorismo", disse o veterano das Forças Especiais, coronel Valery Popov à Sputnik.

"É claro que isso não ocorre sem apoio externo, uma vez que, além do financiamento [de organizações terroristas], temos o fornecimento de armas e de material impresso proibido", lembrou Popov.

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Apesar dos desafios, "as Forças Especiais aprenderam muito [sobre combate ao terrorismo] nesses últimos 16 anos. Muitas tentativas de ataques foram evitadas, não só em território russo, mas também fora dele", disse Popov.

"O combate ao terrorismo depende de cada um de nós [...] para que se Deus quiser, ninguém nunca mais tenha que vivenciar [o ataque de] Beslan novamente", concluiu o general.

No dia 3 de setembro, a Rússia comemora o Dia da Solidariedade no Combate ao Terrorismo. De 1970 a 2017, cerca de 800 ataques terroristas foram realizados na Rússia, fazendo 3.500 vítimas fatais e inestimável dano físico e psicológico para a sociedade russa.

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