Nos últimos meses, o prato mais tradicional da mesa do brasileiro ficou bem mais caro. Segundo dados do ProconsBrasil, o arroz registrou aumento de 320%, com um saco de cinco quilos chegando a exorbitantes R$ 40 em algumas prateleiras. O feijão também registrou alta. A cesta básica do brasileiro está cerca de 20% mais cara.
Para amenizar o problema, o governo anunciou que vai zerar as tarifas de importação de 400.000 toneladas de arroz oriundo de países de fora do Mercosul. A medida já foi enviada pelo Ministério da Agricultura para o Comitê Executivo de Gestão (Gecex), órgão técnico que define a política tarifária brasileira.
Antes da proposta, porém, o presidente Jair Bolsonaro tinha pedido "sacrifício e patriotismo" aos donos de mercados para baixar o preço dos alimentos.
'Regra clássica da economia'
Para a economista Anapaula Iacovino, professora da FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado), a afirmação não faz sentido, pois o que regula os valores dos produtos são outros fatores.
"A gente sabe que essa reação dos preços não é por conta de patriotismo, e sim por uma questão de regra clássica da economia, as leis da oferta e da demanda e de como os preços variam", disse a especialista em agronegócio.
Na quarta-feira (9), o presidente voltou atrás, afirmando que não haveria uma intervenção do Estado para controlar os preços dos alimentos.
"Ao que tudo indica Bolsonaro está começando a entender um pouco mais de economia", afirmou a especialista.
Zerar tarifas não deve baixar preços
Sobre zerar as tarifas de importação do arroz, a economista elogia a regra e diz que ela deveria valer para sempre.
"Zerar a importação é uma estratégia interessante e importante de ser feita. Na verdade, sempre deveria ser assim, ainda mais com alimentos. É importante que não tenha nenhum tipo de imposto que recaia em cima. Com essa condição o arroz tenderia a ser oferecido a um preço melhor no Brasil. A expectativa é de que o arroz importado aumente a oferta interna e leve a uma redução do preço", diz Iacovino.
No entanto, ela avalia que, sozinha, essa medida não terá força para reduzir os preços, no máximo levar a uma estabilização.
"Assim como para o Brasil está bom vender para outros países, outros países exportadores de arroz também têm outras opções para vender. Para eles trazerem para o Brasil, esse arroz não deve chegar barato. Não há uma expectativa de que haja uma redução no preço. A expectativa da redução é em um cenário onde a oferta fique maior do que a demanda, sem nenhum tipo de intervenção do governo e de nenhum tipo de instituição. O fato é que a importação pode contribuir para a estabilização do preço, mas, redução, muito pouco", explicou a economista.
Conjunção de fatores explica alta
Segundo a professora, uma conjunção de fatores causou a alta dos preços dos itens da cesta básica no Brasil, principalmente uma demanda maior do que a oferta, tanto no mercado interno quanto externo.
"O fato das pessoas ficarem em casa levou a um consumo maior de itens da cesta básica. E tem até o elemento interno, que é o auxílio emergencial, que tende a aumentar o mercado consumidor de alimentos. A tendência é que esse dinheiro seja usado para a subsistência e a comida é o primeiro fator. Isso contribuiu para o aumento da demanda desses produtos. No mercado internacional tem o fato da China ter voltado a importar alimentos e estar reabastecendo seu estoque. Quando a China faz um movimento como esse, de importadora, promove uma alta nos preços", afirmou a especialista.
'Falta de planejamento'
A economista afirma ainda que o Brasil precisava de uma política de preços a médio a longo prazo, pois o aumento da inflação de alimentos "em um cenário de piora da economia é mais cruel do que já seria em qualquer outra fase".
"Um aspecto importante dessa crise é que ela expõe uma falta de planejamento do segmento agro na oferta de alimentos para o mercado interno e na previsibilidade que um bom planejamento oferece sobre a variação de preços", disse Anapaula Iacovino.