Paralisados desde 17 de agosto, os funcionários reivindicam o retorno de cláusulas que constavam em acordo coletivo revogado no ano passado. Segundo o movimento, de 79 itens, apenas nove foram mantidos, com perda de benefícios e direitos como auxílio creche, indenização por morte, auxílio para pais com filhos especiais, licença maternidade de 180 dias, entre outros.
Além disso, os trabalhadores criticam mudanças na cobertura de saúde da categoria. Os funcionários precisam pagar 50% dos planos, enquanto a empresa arca com a outra metade.
Após uma audiência de conciliação acabar sem acordo, julgamento sobre a greve foi marcado para 21 de setembro (segunda-feira) no Tribunal Superior do Trabalho, com previsão de início às 13h.
Em caso de resultado favorável, o movimento sinaliza que a greve pode ser interrompida após o julgamento.
"Nossa expectativa é de que a gente saia vitorioso. Não teve negociação com a empresa, só nos restou esse julgamento. Não estamos brigando por aumento de salários e direitos, estamos brigando para manter o que nós conquistamos ao longo dos anos e que a empresa insiste em retirar", disse à Sputnik Brasil José Antônio da Conceição, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos na Baixada Santista, litoral Sul e Vale do Ribeira (Sindect-Santos).
'Greve vai continuar'
Por outro lado, caso a decisão do julgamento acarrete grandes perdas salariais para a categoria, a disposição dos funcionários é manter a paralisação. De acordo com Conceição, os trabalhadores não aceitarão a perda de cláusulas do acordo que dizem respeito "ao bolso do trabalhador".
"Se forem cláusulas que não dizem respeito à parte financeira, que não vão mexer no bolso do trabalhador, acredito que os funcionários aceitem. Se forem cláusulas que tirem o poder aquisitivo dos trabalhadores, a greve vai continuar", afirmou.
No ano passado, os funcionários dos Correios também fizeram greve e o TST decidiu que o acordo coletivo da categoria tinha validade por dois anos, até 2021.
No entanto, a empresa alegou dificuldades econômicas e conseguiu revogar o acordo e alterar as regras de custeio dos planos de saúde por decisão monocrática do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF). Levada à plenário, a liminar suspendendo a vigência do acordo foi mantida.
'Se for coerente', TST 'manterá decisão'
Para José Rivaldo da Silva, secretário-geral da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas dos Correios e Similares (FENTECT), se o TST "for coerente, manterá a decisão que deu no ano passado".
"Obviamente não estamos depositando todas as nossas fichas no TST. Sabemos como funciona. Mas, com o histórico, esperamos uma decisão que não seja decepcionante para os trabalhadores", disse à Sputnik Brasil.
Decepcionante, para Rivaldo, seria uma decisão "como a do Supremo", impondo a "vontade do governo Bolsonaro e do general Floriano Peixoto", presidente da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT). De acordo com o secretário-geral, se o acordo não tivesse perdido vigência, a categoria estaria trabalhando durante a pandemia.
"Se vier algo dessa natureza, vamos fazer um enfrentamento bem maior. O que a gente está discutindo é a manutenção do que a gente tem hoje. Sabemos que no tribunal pode não manter tudo, tem que avaliar o que vão tirar, não dá para definir um limite de perdas. Já estamos perdendo muito sem reajuste e com a inflação de alimentos. Estamos lutando até o dia de hoje, de amanhã e nos dias que forem necessários", disse.
'Problema do governo é sanha de privatizar'
Rivaldo afirma ainda que, mesmo com a pandemia, a situação econômica dos Correios é boa e até melhorou, com aumento dos envios de entregas e encomendas. Segundo ele, o lucro atual da empresa é de cerca de R$ 614 milhões, o que daria "para manter direitos que temos há mais de 30 anos".
"O problema do governo é a sanha de privatizar por privatizar, e deixar a empresa mais barata para atração de quem tem interesse na privatização", criticou o sindicalista.
Os grevistas dizem ainda que, independentemente do resultado no TST, qualquer decisão para o futuro sairá após assembleia da categoria, que deve ser realizada já no dia seguinte ao julgamento.
Correios: proposta dos sindicatos é 'imprudente'
Os Correios, por sua vez, afirmaram, por meio de nota, que a empresa "vêm tentando negociar os termos do Acordo Coletivo de Trabalho 2020/2021, em um esforço para fortalecer as finanças da empresa e preservar sua sustentabilidade".
"Enquanto os sindicatos insistem em manter uma proposta imprudente, tendo em vista a crise atual, a empresa entende que não há margem para medidas incompatíveis com a situação econômica atual e vislumbra uma economia da ordem de R$ 800 milhões ao ano, apenas com o racionamento dos gastos com pessoal: o suficiente para recuperar, em três anos, o prejuízo de R$ 2,4 bilhões acumulados em gestões passadas", afirmou a estatal.