Conforme publicado pela Agência Brasil, uma pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) aponta que a capital do Amazonas passou pelo pico local da pandemia em maio, com 45,9% da população infectada pela COVID-19. A taxa teria avançado no mês seguinte para 64,8% e se estabilizou em 66,1% nos dois meses posteriores.
Segundo os pesquisadores, essa pode ser uma evidência de que a cidade alcançou a chamada imunidade de rebanho, o que teria limitado a circulação do vírus. Esse quadro teria sido reforçado por mudanças no comportamento da população e intervenções farmacêuticas. A pesquisa alerta, no entanto, que os dados colhidos podem não ser representativos e que não há consenso sobre qual seria a proporção de infectados para alcançar a imunidade de rebanho em relação à COVID-19.
Guilherme Werneck, médico epidemiologista e professor do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), explica que a imunidade de rebanho, ou imunidade de grupo, é uma proporção de contaminados em determinada população que limita a transmissão da doença. Segundo o especialista, no caso da COVID-19 essa proporção gira em torno de 50% a 60% da população, mas alerta que isso não acaba totalmente com a transmissão.
"Se nós tivermos uma população com imunidade de grupo acima de 50%, aproximadamente, isso teria um impacto importante na transmissão. Não iria acabar com a transmissão, mas iria contribuir para uma redução, estabilização ou regressão dessa epidemia paulatinamente, porque com tantas pessoas imunes fica mais difícil você ter a transmissão entre pessoas", afirma Werneck em entrevista à Sputnik Brasil.
"Para Manaus chegar a essa imunidade – e digamos que ela seja representativa da população, da ordem de 50% ou mais – foi preciso o colapso do sistema de saúde, pessoas morrendo em casa não sendo atendidas adequadamente no sistema de saúde", aponta.
O epidemiologista afirma que a suposta imunidade coletiva em Manaus teria sido atingida à custa de muitas vidas de manauaras, e lembra que por isso mesmo essa não pode ser uma estratégia de saúde pública.
"É importantíssimo lembrar que como estratégia de saúde pública, imunidade coletiva, o patamar da imunidade coletiva em 50%-60% deve ser atingido com proteção e salvando vidas, ou seja, só por meio da vacinação", ressalta.
Werneck alerta que o descontrole da epidemia pode levar a imunidade de grupo a outras capitais ao custo de milhares de vidas. O médico explica que enquanto uma vacina não está disponível, é essencial difundir práticas de prevenção, como o distanciamento social e o uso de máscaras.
"Nós precisamos reforçar essas medidas não farmacológicas enquanto não temos uma solução melhor para esse problema. O que importa é que, de novo, gostaria de salientar, essas medidas são medidas difíceis, que causam uma carga muito grande na população, mas elas são as medidas que permitem que nós salvemos vidas das pessoas da nossa população, que é o maior bem que um país pode ter", conclui.