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Imposto sobre transações financeiras será uma nova CPMF, afirma advogado

Segundo advogado tributarista Linneu de Albuquerque Mello, os impactos do novo imposto ainda não podem ser medidos. Tudo dependerá da capacidade do governo de compensar o aumento da carga tributária.
Sputnik

O líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO), confirmou que a reforma tributária do governo prevê a criação de um imposto sobre transações financeiras, com alíquota de 0,2%. O imposto é uma nova CPMF?

Sputnik Brasil conversou sobre o tema com advogado Linneu de Albuquerque Mello, especialista em Direito Tributário e professor da Faculdade de Direito da Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro.

Para o advogado, "sem sombra de dúvidas", trata-se de uma nova CPMF. Ele lembrou que, quando o governo tentou criar um imposto semelhante, a medida foi julgada inconstitucional. Para driblar a situação, foi criada a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), extinta em 2007.

"Toda vez que se cria um tributo que incide sobre a movimentação bancária a um determinado percentual é razoável dizer que é um tipo de CPMF", disse o especialista.

No caso da nova proposta do governo, se criaria um imposto, e não uma contribuição. O primeiro financia as atividades do Estado de forma genérica, sem designação da receita à uma determinada despesa. Uma contribuição, por sua vez, serve para financiar a seguridade social. O advogado se mostrou cético quanto à possibilidade desse novo tributo ser compensado com eliminação de um outro.

"Todo político, quando anuncia um tributo, sempre diz que não vai aumentar a carga, porque um outro qualquer está sendo extinto. Eu acho pouco razoável acreditar nisso, mas é normal escutar esse tipo de declaração", ponderou o entrevistado.

Ele destacou que o problema tributário brasileiro seria de caráter fiscal e que só resta esperar para confirmar se a folha de pagamento será exonerada de fato pelo governo.

"O problema tributário brasileiro é um problema muito mais fiscal. Ou seja, os tributos que se destinam a prover receita para o governo estão sempre correndo atrás da despesa. As despesas no Brasil são enormes e descontroladas. Esse é o grande problema. Então os tributos vêm de forma descontrolada também", afirmou o interlocutor da Sputnik Brasil.

Já o real impacto do novo tributo sobre a economia ainda estaria incerto, segundo o professor. Tudo dependerá da capacidade do governo de cumprir suas promessas.

"Se houvesse mesmo uma desoneração em folha, como se espera e se está prometendo, eu acho isso muito interessante. Porque a carga tributária sobre o salário no Brasil é muito grande. Isso, evidentemente, faz com que haja pouca contratação. Hoje em dia, o empresário, na hora de contratar alguém, pensa 30 vezes. Porque, a partir do momento que ele admite alguém, o custo não é apenas o salário que ele paga, mas, em especial, todos os tributos que circundam o valor do salário. Isso precisaria ser desonerado para que haja um incentivo à contratação e diminuição do desemprego", alegou o advogado.

Nesse caso, realmente poderia se falar em um impacto positivo sobre a economia, reconheceu Linneu de Albuquerque Mello. O ideal para ele, no entanto, seria uma desoneração sem a criação de um imposto novo.

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