Onças, machados e mais: examinados vestígios de 'paraíso' de 1 milhão de anos na Espanha (FOTOS)

Arqueólogos examinaram um local fértil em recursos no leste pré-histórico do país, onde encontraram restos de ossos de mamíferos e de ferramentas humanas que teriam sido utilizadas em caça.
Sputnik

Antes da chegada dos romanos, que fizeram de Tarragona, no leste da Espanha, um dos principais pontos na Hispânia conquistada, mesmo antes da existência de assentamentos humanos estáveis, havia fauna e flora distintas há um milhão de anos em La Canoja, a poucos quilômetros da cidade. Sua presença foi registrada em Barranc de la Boella, um dos maiores sítios arqueológicos da Espanha.

Desde 2007 que arqueólogos do Instituto Catalão de Paleoecologia Humana e Evolução Social (IPHES) busca restos mortais no sítio arqueológico, conta Palmira Saladié, arqueóloga do instituto e codiretora da escavação, à Sputnik Mundo.

O sítio arqueológico, localizado na Catalunha, é composto por dois locais de 300 metros quadrados, a vários metros de profundidade. Ambos estão localizados em uma ravina natural a apenas seis quilômetros da foz do rio Francolí, sendo um lugar radicalmente diferente do ambiente de um milhão de anos atrás.

"Esta área era um grande estuário. Estava a apenas um quilômetro do mar Mediterrâneo. Uma área onde havia muita água doce que nunca gelou, pois encontramos restos de hipopótamos, cuja sobrevivência depende destas características. Por isso, o clima era ameno. Sem dúvida, era um ecossistema muito rico em termos de animais e plantas", salienta Saladié.

As equipes de pesquisadores encontraram ossos de "grandes mamíferos do Pleistoceno" em Barranc de la Boella e gigantes como mamutes, rinocerontes ou hipopótamos, mas também macacos, veados, cavalos, bisontes ou castores.

Onças, machados e mais: examinados vestígios de 'paraíso' de 1 milhão de anos na Espanha (FOTOS)

Além disso, foram encontradas evidências da presença de carnívoros, tais como linces ou raposas. Entre eles se destaca um felino grande, semelhante a um leão grande, que ainda não foi classificado.

As últimas descobertas foram partes de dentes de onças-pintadas e restos fecais de hienas, enterrados perto do que eram as margens de um lago no passado.

"Esta é a primeira vez que encontramos os restos de onças-pintadas europeias na área", diz a pesquisadora.

Não só animais

Os arqueólogos do IPHES encontraram igualmente várias ferramentas de pedra pré-histórica – um conjunto de sílex usado para cortar carne, descobertas ao redor do esqueleto de um grande mamute.

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De acordo com Palmira Saladié, a escavação aponta que "um ecossistema tão rico em recursos favorece sua sobrevivência, pois eles poderiam obter carne, vegetação, água e materiais para construir suas ferramentas". No entanto, ainda não foi localizado nenhum remanescente desses habitantes.

"Gostaríamos de encontrar restos humanos, já que isso seria fechar o círculo das descobertas na ravina. Espero termos sorte e sucesso", diz a codiretora do projeto.

Mais importante, as ferramentas dos hominídeos encontradas em Barranc de la Boella são os primeiros machados de pedra na Europa. Em comparação, os mais antigos anteriormente conhecidos, em Atapuerca, província Burgos no norte da Espanha, datam de 500.000 a.C.

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"Eles têm cerca de um milhão de anos de idade. Não sabemos por que eles estão aqui, mas estamos lidando com uma evolução tecnológica que teve lugar na África milhares de anos antes. Esses 15 machados podem nos ajudar a descobrir como esse conhecimento foi transmitido e, por sua vez, resolver como essas grandes migrações hominídeas do continente africano para a Eurásia aconteceram", revela a arqueóloga.

Fim dos trabalhos atuais

O material descoberto, tanto dos animais como das ferramentas humanas pré-históricas, será examinado pelos pesquisadores durante este ano letivo, que são maioritariamente professores universitários. Particular atenção será dada aos ossos dos animais.

"A maioria deles não chega em boas condições, por isso é importante que eles estejam em um laboratório de restauração de antemão", admite Saladié.

Os pesquisadores não regressarão a Barranc de la Boella antes de 2021. A codiretora da escavação espera que o façam "sem a tensão que vem com o trabalho em tempos de pandemias", para continuar examinando um local com um milhão de anos de história.

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