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Salles despacha atrás da mesa ao invés de ir ao 'campo de batalha', critica especialista

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, opta por administrar sua pasta de dentro do gabinete, ao invés de ir para o campo de batalha, disse especialista em direito ambiental à Sputnik Brasil.
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Segundo levantamento feito pelo jornal Folha de S.Paulo, Salles teve em 2020 quatro vezes mais compromissos oficiais em São Paulo do que na Amazônia e no Pantanal, biomas que vêm registrando recordes de incêndios e desmatamento. 

De acordo com o jornal, Salles esteve até setembro de 2020 em eventos e reuniões na capital paulista pelo menos em 25 dias. Na região da Amazônia, foram quatro dias, e no Pantanal, outros dois. A apuração da Folha levou em conta apenas viagens oficiais, já que o ministro tem residência em São Paulo. 

Para o advogado Antonio Fernandes Pinheiro Pedro, especialista em direito ambiental, o fato representa uma "disfunção muito grande quando se trata de uma pasta de controle territorial, de afirmação de soberania, como é o caso da gestão ambiental".

'Glória feita de sangue', de Kubrick 

Como metáfora da situação, Pinheiro Pedro cita o filme "Glória feita de sangue" (1957), do diretor Stanley Kubrick, estrelado por Kirk Douglas e ambientado na Primeira Guerra Mundial. 

"Essa questão me lembra muito o filme, no qual um general francês ordena um ataque suicida contra uma trincheira alemã e, após o desastre, se desculpa buscando chamar à corte marcial os soldados que sobraram, que ele escolhe aleatoriamente", disse o especialista. 

Para o advogado, trata-se de uma película "terrível, que mostra a enorme desconexão entre o que se decide em um gabinete e a realidade do que acontece no teatro de operações". 

'Despachando atrás da mesa'

"É mais ou menos o paralelo que a gente pode traçar dessa opção que um gestor ambiental faz de permanecer despachando atrás da mesa, e não ir efetivamente ao local da batalha", afirmou Pinheiro Pedro, em referência à Amazônia e ao Pantanal. 

Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o fogo já devastou 21% da área do Pantanal. Na Amazônia, o desmatamento cresceu 34% de agosto de 2019 a julho de 2020. 

Sobre o grande número de compromissos em São Paulo, o especialista diz que o ministro privilegia o local "porque é a base política dele, um vício natural da República brasileira". 

"Não há outra explicação maior do que essa. O que é uma pena, porque isso é um fator comum na política tradicional do Brasil, e se esperava que nesse governo a gente fugisse desse tipo de agenda", afirmou o advogado.

Ministro 'indicado pelo empresariado paulista'

De acordo com a Folha de S.Paulo, entre as agendas do ministro em São Paulo, houve compromissos frequentes com representantes do mercado imobiliário. Nos últimos três meses, Salles manteve seis agendas com o setor, entre almoço, reuniões e participação em eventos.

O especialista critica esse fato, argumentando que isso explica a atual "crise ambiental" vivida no país. 

"O ministro foi indicado, prioritariamente, pelo empresariado paulista, em especial da área imobiliária e industrial. O engraçado é que, de certa maneira, a gestão do Ministério do Meio Ambiente não guarda relação direta com as questões relacionadas ao ramo imobiliário, muito menos ao ramo imobiliário paulista. Realmente há uma desconexão entre os encontros e a atividade precípua do ministério, que é cuidar de extensos biomas. É uma pena que esteja ocorrendo esse tipo de disfunção, mas isso se reflete exatamente na enorme crise ambiental que vivemos", disse Antonio Fernandes Pinheiro Pedro.
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