O discurso do líder norte-coreano Kim Jong-un no sábado (10), durante uma parada que exibiu novos mísseis balísticos, não deve ser visto como uma mudança de tom, disse Kim Dong-yup, professor do Instituto de Estudos do Extremo Oriente da Universidade Kyungnam, Coreia do Sul, à Sputnik.
"Alguns analistas provavelmente darão importância ao fato de que, na primeira parte, ele transmitiu palavras de apoio aos povos do mundo, expressou sentimentos calorosos por seus compatriotas do Sul e mostrou esperança de que a crise será superada em breve, e o Norte e o Sul serão capazes de dar as mãos novamente. Mas eu diria que isto é apenas retórica política formal".
"Você podia sentir a voz de Kim Jong-un tremendo de vez em quando, e seu rosto esteve perto de chorar várias vezes. Isso me confundiu no início, e eu revi esses momentos de propósito várias vezes para ver se eu não teria cometido um erro", comentou. A conclusão do professor é que o discurso "foi um espetáculo bem representado para o público interno".
Armamento em destaque
Em relação às próprias armas, o especialista referiu a exibição de vários tipos de novos armamentos, de sistemas de artilharia autopropulsados de 152 milímetros, de cinco tipos de lançadores múltiplos de foguetes de 122 milímetros, de 240 milímetros e dos chamados lançadores supergrandes, além de mísseis antiaéreos e antinavio e de "um projétil balístico estratégico submarino", segundo anunciado pelos comentadores. Por seu aspeto exterior, ele é parecido com o Pukkykson-3 (que tem um diâmetro entre 1,5 m e 1,6 m), embora tivesse escrito Pukkukson-4A e mostrasse ter um diâmetro maior, cerca de 1,8 m.
"Levando em conta que a família Pukkykson usa motores de combustível sólido, o crescimento do diâmetro significa melhor tecnologia de compactação de combustível e, consequentemente, maior alcance de voo. Além disso, dado o maior diâmetro, podemos assumir que ele [o míssil] foi projetado para um novo submarino de maior envergadura, atualmente em desenvolvimento".
O aumento do diâmetro do míssil de propulsor sólido pode também significar uma melhoria do Pukkykson-2, projetado para lançamentos a partir do solo e para substituir o míssil balístico de combustível líquido Hwason-12, com o mesmo alcance, argumenta o especialista.
Mais armas
Na segunda metade do desfile também foram demonstradas as versões norte-coreanas dos sistemas de mísseis russos Iskander e dos ATACMS norte-americanos, seguidas pelos Hwason-12 e Hwason-15.
Foi também mostrado, especialmente para os EUA, um novo míssil balístico intercontinental, que deve ter cerca de 24-25 metros de comprimento, segundo o professor universitário. O míssil é de combustível líquido, tem um maior diâmetro e pertence à família Hwason, mas pode ainda estar em desenvolvimento, teoriza Kim Dong-yup.
"Alguns analistas estão se concentrando no fato de o novo míssil balístico intercontinental ter maior alcance, mas eu diria que o principal não é mais o alcance, mas o aumento do peso da ogiva e a estabilidade e confiabilidade de seu funcionamento".
"O Hwason-15 já demonstrou um alcance potencial de 13.000 quilômetros, o que torna todo o território continental dos EUA acessível para ataque, por isso não há razão especial para aumentar o alcance", afirma.
Apesar de tudo, o analista considera que o míssil não vai ter múltiplas ogivas, dado o nível atual das tecnologias norte-coreanas de miniaturização.
No final de 2019, durante a quinta sessão plenária do Comitê Central do PTC da 7ª legislatura, Kim Jong-un disse que "o mundo em breve poderia ver as novas armas estratégicas que a República Popular Democrática da Coreia possui", algo que o acadêmico avalia ter sido uma promessa cumprida, dado o que foi exibido no desfile militar.