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Apesar de previsões ruins, crise na economia brasileira não vai ser tão dramática, diz especialista

A projeção do FMI é de que a América Latina sofra em 2020 a maior recessão desde 1960, mas a crise será "menos dramática" do que o esperado no Brasil, segundo disse especialista à Sputnik Brasil.
Sputnik

Em seu relatório Perspectivas Econômicas Globais de outubro, publicado na semana passada, a instituição previu contração de 8,1% na economia latino-americana, menor do que os 9,2% projetados em junho. 

Em relação ao Brasil, o FMI melhorou um pouco suas previsões para a queda da economia. Em junho, a expectativa era de recessão de 9,1%. Agora, a projeção é de contração de 5,8%. 

Para o economista Milton Pignatari, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie em São Paulo, é preciso "esperar mais para ver os reflexos" da pandemia, mas ele acredita que seu impacto não será "tão dramático" quanto o esperado. 

"A gente não vai ter uma situação tão dramática. Longe de achar que é uma situação boa, que está tudo funcionando bem, mas a gente sabe que não vai ser uma situação tão grave", avaliou. 

'Programas de sustentação de demanda'

Segundo Renato Baumann, coordenador de cooperação internacional do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), "a economia tem se mostrado mais resiliente do que se imaginava originalmente", e "certamente" demonstra "recuperação em um ritmo maior do que se imaginava anteriormente". 

Para o especialista, o que "provocou essa surpresa nos indicadores" foram "programas de sustentação de demanda" em "boa parte" dos países. 

"Como no caso do Brasil, em que houve uma alteração constitucional para permitir uma flexibilidade maior durante a pandemia e o desembolso de recursos expressivos, o que deu um poder de compra significativo para população”, disse Baumann à Sputnik Brasil. 

'Continente vulnerável'

Pignatari, por sua vez, avalia que o auxílio emergencial e incentivos governamentais para as empresas são fatores que contribuíram para diminuir o tamanho da queda da economia

"De uma certa forma fizeram com que a famosa roda econômica, o ciclo econômico, não fosse totalmente interrompido", ponderou. 

Em relação à América Latina, Pignatari diz que "América Latina sempre foi um continente vulnerável", situação agravada pela situação ruim de vários países, principalmente na Argentina, mas também Chile, México, Chile e Venezuela. Mesmo assim, ele avalia que as previsões para a região "seriam mais complicadas", "até pela própria capacidade de reação perante mercados mais agressivos, como o europeu, asiático e norte-americano". 

Recessão na região afeta Brasil

Por outro lado, o economista diz que será impossível o Brasil não sentir os efeitos da recessão nos países da América Latina. Para o FMI, a retomada em 2021 dependerá da capacidade dos governos de controlar a crise de saúde e os riscos sociais.

"A gente tem uma série de produtos que são comercializados com uma série de países da América Latina, e se esses países estão com uma previsão ruim, diria que a gente vai ter algum tipo de problema com a reposição dessa balança comercial", afirmou Milton Pignatari. 

Em relação ao Brasil, a estimativa oficial do Ministério da Economia é de queda de 4,7% no PIB neste ano, com crescimento de 3,2% no ano seguinte. Já o FMI prevê um crescimento mais moderado, de 2,8%. 

As previsões consideram que o país obedecerá à regra de teto de gastos. Além disso, a instituição financeira alertou para riscos negativos significativos para o Brasil, como uma segunda onda do coronavírus, longa recessão e desconfiança em relação à dívida pública. 

'Preciso muito mais' do que 3%

Para Baumann, embora um crescimento de 3% seja "uma trajetória positiva", ainda é muito pouco para fazer a economia brasileira realmente decolar, levando em consideração o histórico de baixo crescimento e a queda acentuada de 2020. 

"Essa recuperação tem muito do chamado carregamento estatístico. Vai haver uma baixa significativa neste ano, qualquer recuperação no próximo ano apresentará um resultado positivo. Nesse contexto, 3% é muito baixo, sobretudo em uma economia como a brasileira, que vinha crescendo há dois anos na faixa de 1%. Então é preciso muito mais do que isso", afirmou o especialista.
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