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Analista cita 'abalo de confiança' como obstáculo para investimentos no Brasil

O ministro da Economia, Paulo Guedes, sugeriu ontem (20) que os investidores não deveriam retirar seus ativos do Brasil, pois o país manterá uma agenda interessante para o mercado no pós-pandemia.
Sputnik

Durante participação em uma conferência organizada pelo Milken Institute, sobre oportunidades para Brasil e Estados Unidos, o ministro explicou que considera "um grande erro não investir no Brasil" porque o governo continuará priorizando reformas liberalizantes, privatizações e atualizações dos marcos regulatórios. Prometeu também que não haverá aumento dos impostos, que, ao contrário, pretende reduzir os tributos das empresas. 

"Estamos há um ano e meio sem corrupção no governo, e isso nunca aconteceu antes. É normal que a taxa de juros caia e a taxa de câmbio aumente, mas os investidores estrangeiros podem ficar tranquilos que teremos bons mecanismos de hedge [proteção]", disse ele, citado pela Agência Brasil.  

​Para o economista Gustavo Bertotti, analista da empresa Messem Investimentos, as declarações de Guedes vão de encontro à posição adotada pelo governo do presidente Jair Bolsonaro desde o seu início, focada em aumentar a participação privada na economia. 

Em entrevista à Sputnik Brasil, o especialista argumenta que, apesar de todos os esforços da equipe econômica, a verdade é que, muito por conta de acontecimentos políticos, como casos de "corrupção" e outras questões que vêm gerando preocupações nos investidores, o mercado brasileiro ainda está "extremamente desvalorizado". 

"O Brasil tem um abalo de confiança muito grande. Os indicadores macroeconômicos já vinham em nível alto de desemprego. Enfim, geração de renda e emprego, tudo isso pesa. E aí, a gente tem uma questão aí que a gente sabe que nos acompanha nos últimos anos, na própria questão da corrupção e tudo mais. Isso pesa para o investidor estrangeiro tomar sua decisão em fazer investimentos no Brasil. Mas acho que a fala é oportuna e acho que vai de encontro com o propósito do governo nessa agenda reformista. E trazer essa confiança, retomar essa confiança, que eu acho que é extremamente fundamental para o Brasil, enfim, passar a ser uma rota de investimentos dos investidores internacionais. Não só via mercado de capitais, mas também investimentos diretos em empresas. Enfim, acho que é algo em que o Brasil é muito carente e tem um mercado extremamente defasado, com muitas oportunidades também ainda."

​Bertotti afirma que é natural, em um cenário de crise global, que países emergentes, como o Brasil, sofram um grande impacto. E isso se reflete, por exemplo, na desvalorização da moeda nacional. Isso, junto com os problemas políticos, são fatores preocupantes. No entanto, ele acredita que, no médio prazo, é possível que a situação apresente melhoras. 

"O fluxo ainda é muito negativo. O fluxo deste ano é muito negativo, em parte, impactado pelo coronavírus, mas também pelas nossas questões internas. Questões domésticas que nos acompanham nos últimos quatro, cinco anos, e vêm, cada vez mais, fazendo peso em cima disso", avalia. 

Investir em quê?

O analista aponta que muitos setores da economia brasileira pararam no tempo, principalmente os ligados à infraestrutura, o que impacta diretamente a questão da logística no país e a própria indústria como um todo, por deixar os custos dos transportes de matéria-prima muito elevados. Isso, para ele, deveria ser uma das prioridades no que diz respeito aos investimentos, de maneira a trazer mais competitividade para as empresas e os estados.

"Acho que, então, tudo que envolve portos, aeroportos, rodovias, ferrovias, eu acho que isso seria, na minha opinião, um dos principais pontos. Fora, depois, questões ligadas à educação, que eu acho que é uma área que o Brasil precisa evoluir muito ainda também, e começar a fazer um planejamentos de médio e longo prazos para conseguir obter retornos aí de crescimento gradativo no futuro", explica Bertotti, citando também o saneamento como setor a se investir. 
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