Nesta quinta-feira (22), a Justiça russa prorrogou a prisão preventiva de Robson Oliveira até abril de 2021, negando um pedido de fiança apresentado pela defesa do brasileiro. A juíza do caso entendeu que não seria adequado que o réu aguardasse o julgamento em liberdade por não ter moradia fixa nem emprego na Rússia.
Robson está preso na Rússia desde o início do ano passado, por entrar no país com duas caixas de um remédio proibido no território russo, o cloridrato de metadona. O medicamento deveria ser entregue à família do jogador de futebol Fernando Lucas Martins, que, na época, atuava pelo Spartak Moscou. Oliveira, que trabalhava como motorista do atleta, afirma que não sabia que os remédios estavam em sua mala.
"Recebemos a notícia com surpresa, tendo em vista o montante oferecido a título de fiança [10 milhões de rublos, o equivalente a 730 mil reais]. Bem verdade que a juíza negou a liberdade do Robson pelo fato de ele não possuir residência fixa em Moscou e também não possui vínculo trabalhista. Foi isso que a juíza alegou para indeferir o pedido de liberdade", disse em declarações à Sputnik Brasil o advogado Olímpio da Silva Soares, que representa Robson Oliveira no Brasil.
Após a notícia da prisão do brasileiro na Rússia, o caso ganhou grande repercussão, sendo objeto de uma campanha que tem mobilizado jogadores, personalidades e políticos, incluindo o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro.
A pedido do chefe de Estado brasileiro, na próxima semana, a embaixadora Márcia Donner Abreu, secretária de Negociações Bilaterais na Ásia, Pacífico e Rússia do Ministério das Relações Exteriores, e o senador Nelsinho Trad (PSD-MS), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, devem entregar ao presidente russo, Vladimir Putin, uma carta de Bolsonaro pedindo a soltura de Robson.
"Na ocasião, a Embaixadora será portadora de carta dirigida pelo Senhor Presidente da República ao Presidente Vladimir Putin pedindo a ajuda do alto mandatário russo no bom encaminhamento do caso do cidadão brasileiro Robson Nascimento de Oliveira, ora detido naquele país. Seria de imensa valia que o Senador Nelsinho Trad, Presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado Federal, pudesse participar da missão de entrega da carta, dado o empenho que tem demonstrado na solução da mencionada situação. Sua presença em Moscou simbolizaria também a importância que o Parlamento brasileiro atribui ao tema", escreveu o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, em ofício endereçado ao presidente do Congresso Nacional, senador Davi Alcolumbre.
Prisão de Robson 'é injusta'
Outro parlamentar que tem acompanhado com mais atenção os desdobramentos do caso Robson é o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ). Após a decisão da Justiça russa, nesta quinta-feira (22), ele conversou com a Sputnik Brasil sobre o assunto, condenando a postura da família do jogador Fernando.
"O remédio que caracterizou a prisão do Robson por tráfico não era dele, era do sogro do jogador Fernando [William Pereira de Faria], já admitido pela família, em diversas escutas telefônicas inclusive. O sogro do jogador, assim que o Robson foi preso, imediatamente, viajou para o Brasil e nunca prestou depoimento, nunca assumiu ser o responsável. Tem uma pessoa presa hoje na Rússia, esse tempo todo, uma pessoa em depressão, uma pessoa que perdeu 15 quilos, uma pessoa que deixou sua família aqui pela covardia da família do jogador Fernando", disse.
Para o deputado, embora não haja irregularidade na prisão do motorista brasileiro, a situação pela qual ele está passando é, sem dúvidas, injusta, já que Robson não tem culpa pelo crime cometido.
"A prisão do Robson não é ilegal, mas ela é injusta. Não é ilegal porque havia um crime sendo feito. Só não foi feito pelo Robson, foi feito pela família do Fernando."
Freixo comentou que tem conversado bastante com o senador Nelsinho Trad, e que a expectativa, com essa participação mais incisiva das autoridades brasileiras no caso, é a de conseguir um acordo diplomático que leve à expulsão de Robson da Rússia.
"Isso seria uma maneira de você corrigir [a injustiça]. Por que a Rússia precisa ficar com o Robson lá?", questionou o parlamentar. "É importante que o governo tenha feito essa carta, é importante que as autoridades se manifestem porque é uma questão humanitária. Não é uma questão que separa direita de esquerda, governo e oposição. Isso é uma questão humanitária: tem um brasileiro preso injustamente na Rússia. Nessa hora, tem que se fazer o que é correto. E o Nelsinho Trad está costurando esse diálogo de forma muito habilidosa e muito correta."
Família de Fernando diz que segue prestando apoio
Em nota enviada à Sputnik Brasil, a família do jogador Fernando afirmou que segue atuando em defesa da libertação de Robson Oliveira, "como vem fazendo desde o primeiro minuto do caso".
"Esta semana, oferecemos novamente o pagamento da fiança para que o Robson possa responder ao processo em liberdade, o que será analisado pelo novo juiz responsável pelo caso. Também nos disponibilizamos para custear a sua moradia e demais gastos enquanto estiver na Rússia. Desde o começo, estamos totalmente engajados no caso e pagando por toda a defesa de Robson e empenhados para que seja libertado o quanto antes. Agradecemos, ainda, às autoridades brasileiras que estão em contato com o Fernando por também terem se engajado na questão e torcemos para que possam interferir favoravelmente ao Robson."
Segundo os familiares do atleta, ninguém sabia que o remédio que levou à prisão do motorista do jogador era proibido na Rússia, e, desde sempre, o sogro de Fernando deixou claro que era o verdadeiro dono do medicamento.
"O William, inclusive, levou a medicação consigo, com a devida prescrição de seus médicos brasileiros, em pelo menos seis viagens que fez à Rússia. Também informamos às autoridades russas, desde o começo, que o remédio era de William. Fernando e sua família seguem à disposição e colaborando e torcendo pela libertação de Robson."
Robson está bem e otimista
De acordo com o advogado de Robson, Olímpio da Silva Soares, seu cliente se encontra bem, conversando e demonstra otimismo quanto à possibilidade de "sair o mais rápido possível dessa situação".
"Estamos esperançosos com a comitiva que irá a Moscou, como já noticiado. Estamos esperançosos que, após a entrega da carta do presidente Bolsonaro ao governo russo, a juíza aceite a fiança e deixe o Robson responder o processo em liberdade", disse Soares à Sputnik Brasil.