Embora Joe Biden, candidato presidencial democrata, ainda lidere as pesquisas nacionais dos EUA por uma grande margem, o Grupo Trafalgar, uma empresa de pesquisas e sondagens políticas norte-americana, sugere que muitos pesquisadores norte-americanos "estão predominantemente não contando com o voto oculto em Trump", uma vez que muitos conservadores e apoiadores do presidente têm medo de endossar abertamente Donald Trump.
"Os conservadores guardam para si, por boas razões, suas opiniões pró-Trump", diz à Sputnik Internacional o dr. Nicholas Waddy, professor associado de história do Colégio Alfred da Universidade Estadual de Nova York, EUA.
"Esta se tornou uma sociedade na qual os partidários do Trump podem ser demitidos, insultados, intimidados, envergonhados e às vezes até agredidos, muitas vezes com impunidade. Não é de se admirar que os partidários do Trump mantenham um perfil discreto", acrescenta.
Embora a emissora CNN, o jornal The New York Times e outras mídias estejam anunciando a derrota do presidente em exercício nas próximas eleições com base em sondagens, a situação evoca fortes memórias da corrida presidencial de 2016, durante a qual Hillary Clinton foi apontada como a clara vencedora, lembra o professor.
"As pesquisas de opinião pública do campo de batalha parecem quase exatamente iguais às da última eleição presidencial: o [candidato] democrata goza de pequenos avanços, geralmente dentro da margem de erro", observa Waddy, prevendo que o presidente dos EUA ganhe o mínimo requerido de 270 dos 538 votos do Colégio Eleitoral, ou até mais.
Ainda assim, em 2020 a situação é exacerbada pela pandemia do novo coronavírus, motins e a prevalência do voto por correspondência, o que faz com que algumas pessoas duvidem da confiabilidade das pesquisas da grande mídia.
"Muitos republicanos detestam a mídia, e não deve ser surpresa que eles não queiram fazer parte de uma pesquisa da CNN", comenta Waddy. "A última pesquisa desse tipo colocou Biden na frente por 16 pontos nacionalmente", em referência a uma sondagem da emissora CNN.
Ao mesmo tempo, Nicholas Waddy avisa que esse fato pode não ser mais que um paralelo.
"Claro que nada disso significa que [o Grupo] Trafalgar, que prevê uma vitória apertada de Trump na maioria dos estados decisivos [swing states], está certo", diz o professor.
"Cada eleição significa um eleitorado diferente, e o eleitorado deste ano será mais diferente do que a maioria! No entanto, devemos levar a sério a previsão do Trafalgar, dado seu histórico, e devemos observar que os mercados de previsão dão a Trump uma chance muito maior de vitória do que os pesquisadores de opinião: mais perto de 40%. Meu conselho aos democratas, então, é que não tomem nada como garantido", acrescenta.
Comícios do Trump como mensagem forte
Na opinião de Daniel McAdams, diretor-executivo do Instituto Ron Paul para a Paz e Prosperidade, EUA, a natureza do atual presidente do país pode levar seus apoiadores a esconder sua verdadeira opinião.
"O presidente Trump tem sido uma das figuras políticas mais divisórias em décadas", destaca.
"Seu estilo bombástico tem envergonhado muitos de seus aliados e enfurecido seus inimigos. Muitos americanos estão hesitantes em abraçar abertamente uma figura tão polêmica por medo de alienar amigos e familiares. Eles podem até hesitar em dizer aos pesquisadores de opinião quem eles apoiam por medo de que essa informação seja divulgada. É por isso que muitos suspeitam que as sondagens podem estar subestimando seriamente o apoio a Trump", comenta McAdams.
Há um conjunto de fatores que podem sugerir um crescente apoio a Donald Trump que os inquéritos nacionais são incapazes de detectar, acredita o diretor do think tank.
Não estou concorrendo apenas contra Biden, estou concorrendo contra a Mídia Corrupta, os Gigantes de Tecnologia e o Pântano de Washington. É hora de enviar uma mensagem a esses ricos hipócritas liberais, entregando a Joe Biden uma derrota AVASSALADORA no dia 3 de novembro!
Em termos de entusiasmo público pelos candidatos, os recentes comícios de Trump atraem grandes multidões, enquanto a campanha de Biden não pode ostentar nada do tipo, de acordo com McAdams.
"2020 é praticamente uma cópia exata da campanha de 2016, onde Hillary Clinton teve dificuldades para encher uma pequena sala com torcedores enquanto Trump realizava comícios nos estádios", diz o diretor do think tank, acrescentando que os torcedores do presidente norte-americano em 2020 mostram ainda mais entusiasmo, estando feliz em sair depois dos longos e exaustivos lockdowns.
"Na medida em que Trump é creditado por ajudar a devolver essas coisas normais à vida, ele deve sair beneficiado nas urnas", comenta McAdams.
Além disso, o presidente "tem repetidamente feito questão de se distinguir de Biden na questão do coronavírus", alertando que Biden "travaria a economia e ordenaria um mandato nacional de máscara", enquanto Donald Trump "se concentraria em reabrir a economia e reconstruir a partir da recessão/depressão relacionada ao lockdown", aponta McAdams.
Esta mensagem ressoa especialmente com os trabalhadores de colarinho azul nos estados decisivos, os que não podem "trabalhar de casa", que, de acordo com o diretor do think tank, provavelmente estarão mais motivados a votar no presidente em exercício, na esperança de que possam voltar aos seus empregos.
"Muitos desses trabalhadores podem não ter se sentido entusiasmados com Trump por vários motivos, mas quando parece ser uma questão de vida ou morte eles podem sair em força. Biden pode viver para se arrepender de ter se lançado como o candidato do 'lockdown'", conclui McAdams.