O Plasmodium falciparum, o parasita mais mortal da malária, tem um mecanismo genético distinto que o permite se esconder na corrente sanguínea dos portadores sem ser detectado por até seis meses antes da estação chuvosa, descobriu um novo estudo publicado na segunda-feira (26) na revista científica Nature Medicine.
Parasita mais mortal
A malária é causada por cinco espécies do parasita Plasmodium, sendo a mais mortal o P. falciparum. O parasita infecta os glóbulos vermelhos humanos e se replica dentro deles, causando sintomas como febre e dores musculares.
A maioria dos casos de malária ocorre durante a estação chuvosa. Dessa forma, o P. falciparum se replica durante esses meses, porque os mosquitos que podem transmitir a doença de pessoa para pessoa são abundantes.
O que os cientistas até agora não sabiam é como o parasita responde durante a estação seca de quase seis meses, quando os mosquitos são raros. O estudo que ajuda a responder a essa pergunta foi um trabalho multinacional, com pesquisadores da Dinamarca, França, Alemanha, Mali, Portugal, Suécia, Reino Unido e EUA, liderado por Silvia Portugal, do Instituto Max Planck de Biologia de Infecções, Alemanha.
Modificação genética
Os cientistas descobriram que o P. falciparum altera a expressão do gene de uma forma que o ajuda a sobreviver sem ser detectado na corrente sanguínea humana, pronto para explodir novamente quando as chuvas voltarem.
"O que o parasita encontrou aqui é uma espécie de ponto ideal", afirma Silvia Portugal, citada pelo portal New Scientist. Durante a estação seca, permanece em níveis tão baixos que raramente causa quaisquer sintomas de doença ou desencadeia uma resposta do sistema imunológico da pessoa.
"Para alcançar algo próximo à eliminação da malária, não será suficiente focar apenas nas pessoas que adoecem […] Se pudéssemos limpar os reservatórios durante a estação seca e reduzir a quantidade de parasitas que temos quando os mosquitos retornam, isso poderia ser uma intervenção", acrescenta Silvia Portugal.
Viagem ao baço
Para descobrir como o parasita faz isso, os pesquisadores analisaram P. falciparum coletado de portadores durante as estações de chuva e de seca. Durante a estação chuvosa, os parasitas produziram uma molécula que torna os glóbulos vermelhos mais propensos a aderir aos vasos sanguíneos.
Isso torna as células, que contêm o parasita, menos propensas a viajarem para o baço, essencialmente um filtro de sangue no qual os glóbulos vermelhos danificados ou doentes são removidos.
Na estação seca, no entanto, os parasitas não produziam mais essas moléculas, o que significa que as células sanguíneas infectadas não pareciam aderir tanto às paredes dos vasos sanguíneos.
Como resultado, a maioria das células infectadas viajou para o baço, onde foram decompostas. Isso manteve a população de parasitas em um nível baixo que não causa doenças ou desencadeia uma resposta imunológica.