Foi apresentado a autoridades na noite da última terça-feira (27), em Brasília, o primeiro dos caças Gripen adquiridos pela Força Aérea Brasileira (FAB), que devem entrar em operação em meados do ano que vem.
Produzido pela fabricante sueca Saab, o Gripen é considerado um bom avião de combate, fácil de pilotar, e sua compra pelas Forças Armadas é apontada como de ótimo custo-benefício, por ser mais barato do que alguns concorrentes e envolver transferência de tecnologia. Alguns analistas, porém, acreditam que sua qualidade merece destaque apenas em termos regionais, deixando a desejar um pouco quando comparado a aeronaves de ponta do cenário internacional.
Perfeito ou não, o Gripen faz parte de um projeto multibilionário que visa a modernizar em parte o poderio da Defesa brasileira, cujo aparato já foi descrito como defasado por militares de alta patente.
"A escolha do Gripen, na verdade, foi a melhor possível dentro de um conjunto que contempla financiamento" e "notável transferência de tecnologia sensível, tecnologia de ponta, que é aquela tecnologia que ninguém costuma transferir facilmente, nem a um preço razoável. É difícil de conseguir e, quando se consegue, é por um preço muito alto", avalia em entrevista à Sputnik Brasil o jornalista especializado em assuntos militares Roberto Godoy.
Do ponto de vista estritamente operacional, para o especialista, a concorrência na qual o Gripen foi escolhido, o Programa FX-2, deveria ter sido vencida pelo F-18 da Boeing. Mas, levando em consideração questões políticas polêmicas na época, envolvendo a espionagem da então presidenta brasileira Dilma Rousseff e outros membros de seu governo pelos Estados Unidos, este último acabou sendo preterido. E o outro concorrente, o Rafale, da francesa Dassault, se mostrou inviável por conta do preço e dos altos custos operacionais e de manutenção.
"Aí sobrou o Gripen. Mas não foi por eliminação. Veja bem, na verdade, acabou se revelando uma ótima opção."
O avião multimissão F-39 Gripen será incorporado à FAB para operações de controle do espaço aéreo, ataque e reconhecimento. Ele tem 14,1 metros de comprimento e 8,6 metros de largura, capacidade para 6,5 toneladas de armamentos e capacidade para operar sob quaisquer condições meteorológicas, podendo, segundo a Aeronáutica, percorrer mais de 4.000 quilômetros sem a necessidade de reabastecer. Mas a principal vantagem de sua aquisição, de acordo com Godoy, está no fato de que, no longo prazo, com essa expertise, o país estará apto para desenvolver os seus próprios caças.
"O substituto do Gripen será, com certeza, um caça, todo ele, projetado, desenvolvido e construído aqui no Brasil."
Prioridades da Defesa estão bem definidas, só falta a grana
Além de avaliar a importância do Gripen para a modernização das Forças Armadas, Roberto Godoy também analisou o estágio de desenvolvimento da Defesa brasileira, destacando que, em sua opinião, as prioridades estão muito bem definidas. Realizar as atualizações, segundo ele, depende apenas de haver recursos disponíveis.
"A força estratégica do Brasil hoje, a grande força de dissuasão do Brasil, será a de submarinos. O Brasil, do ponto de vista estratégico, geopolítico, ficou claro que o Brasil pretende ter uma força para controlar, para ter projeção sobre o Atlântico Sul. A área estratégica para o Brasil é o Atlântico Sul e é nesse viés que as forças estão investindo", explica.
O jornalista destaca a construção em andamento de quatro submarinos convencionais, pelo Brasil, "que são considerados os mais modernos do mundo nessa classe" de não nucleares, que não têm propulsão atômica. A expectativa é a de que, após a entrega desses, seja solicitada a construção de mais unidades, de maneira a aumentar ainda mais as capacidades da Marinha do Brasil.
No que diz respeito ao Exército, o analista aponta o programa do sistema de lançadores múltiplos de foguetes Astros 2020 como principal projeto estratégico. Mas há outras prioridades que ainda dependerão de dotação para serem contempladas. Uma delas é o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteira (Sisfron), elaborado em 2012 mas ainda não concluído, por falta de verbas suficientes.