Notícias do Brasil

China não tem como se livrar da soja brasileira no curto prazo, diz economista

Foi divulgado na última quinta-feira (29) que a China fechou um acordo para importar soja da Tanzânia. O objetivo seria diminuir a dependência que Pequim tem da soja do Brasil e dos EUA, que são os maiores produtores do mundo.
Sputnik

De acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), a China importou 9,79 milhões de toneladas de soja em setembro, o que representou um aumento de 19% em relação ao ano anterior. Cerca de três quartos dessas importações vieram do Brasil.

Em entrevista à Sputnik Brasil, a economista e professora da Fundação Armando Álvares Penteao (FAAP), Anapaula Iacovino, afirmou que, no curto prazo, o acordo entre a China e a Tanzânia não deve afetar as exportações brasileiras para o mercado chinês, pois a produção de soja da Tanzânia é "bastante incipiente".

De acordo com ela, os países do continente africano, mesmo em seu conjunto, acabam sendo pouco representativos na produção de soja, comparando com países como Brasil, EUA e Argentina, por exemplo.

"O continente africano aparece sempre no grupo de outros países que somam algo me torno de 5% da produção mundial de soja, e a Tanzânia faz parte disso, algo absolutamente incipiente. Então para que esse acordo com a Tanzânia realmente causasse um impacto, precisaria haver um volume mais significativo de produção", argumentou.

A especialista em agronegócio, ao comentar a alta demanda chinesa sobre a soja brasileira, observou que o país asiático despontou como um grande consumidor do produto há cerca de 20 anos. Na época, a produção dos EUA estava em cerca de 80 milhões de sacas e o Brasil produzia na faixa de 50-55 milhões de sacas de soja. No entanto, desde então, o Brasil conseguiu superar a produção norte-americana, o que acompanhou e satisfez o grande crescimento do consumo chinês.  

"O ritmo do crescimento brasileiro foi maior, a nossa produtividade na soja é bastante respeitada, então o Brasil conquistou esse mercado a partir da eficiência. A Tanzânia não só tem uma produção incipiente como trata-se ainda de um país rudimentar, e para que ela consiga entrar nesse mercado competitivo da soja, são necessários muitos investimentos", afirmou. 

China não tem como se livrar da soja brasileira no curto prazo, diz economista

Ao comentar sobre a possibilidade da atual tendência de alta demanda da China em relação à soja brasileira sofrer uma reversão, Anapaula Iacovino disse quando se fala da China, que é um "país que trabalha com planejamento de longo prazo", é sempre possível considerar estas alterações comerciais, mas destacou que tal perspectiva ainda não está no horizonte.

"Em um primeiro momento, a China não tem como ficar livre da soja brasileira, porque o consumo deles é muito alto e nós, junto com os EUA, que conseguimos dar conta dessa oferta", acrescentou a especialista. 

Anapaula Iacovino disse também que, do ponto de vista do Brasil, é interessante também para o Brasil buscar diversificar o seu mercado, considerando que é "sempre recomendável que a política comercial seja plural". No entanto, ela destacou que, para o curto e médio prazo, é importante manter o diálogo com a China.

"O prudente é manter um diálogo com a China, evitar desgastes desnecessários, evitar provocações desnecessárias, porque, no mínimo, trata-se do nosso principal parceiro comercial, e não só da soja, mas de toda a pauta de exportações do país", completou. 

Comentar