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Entre prejuízos e boas notícias, economista-chefe da CNC fala sobre desafios do comércio no Brasil

"Tendência é de que ao final da pandemia, o setor de comércio deva contabilizar prejuízo de R$ 250 bilhões", diz Fábio Bentes, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Sputnik

Quando o Brasil foi atingido pela pandemia de COVID-19 em meados de março, o comércio varejista pelo mundo já registrava e anunciava perdas recordes, um prenúncio do que nossa economia viria a enfrentar nos próximos meses.

De lá para cá, o setor observou as vendas diminuírem e o corte de vagas crescer. Neste 30 de outubro, Dia do Comerciário, a Sputnik Brasil falou com exclusividade com Fábio Bentes, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

Ao longo da entrevista, Fábio Bentes falou da crise econômica em função da COVID-19 e das perspectivas da CNC de recuperação para os próximos meses.

De acordo com ele, apesar do setor contabilizar, até o fim de 2020, um prejuízo de R$ 250 bilhões, há razões para crer em uma melhora nos resultados do varejo nacional.

"O que o comércio tem a comemorar neste final de 2020 é a sua recuperação, relativamente rápida, diante da pior crise enfrentada na história da nossa economia. Diante da gravidade desta crise, em junho, se alguém vislumbrasse a nossa situação atual, seria considerado um otimista. Os dados do varejo, em termos de venda, na medida em que o segundo semestre avança, apresentam recuperação. São quatro meses de aumento nas vendas, volume muito parecido, mensalmente, com aquele registrado antes da pandemia", afirmou.

Fábio Bentes faz referência ao mês de junho porque, na época, um estudo da CNC avaliou que a pandemia do novo coronavírus fez o comércio varejista brasileiro acumular uma perda de R$ 200,7 bilhões.

Entre prejuízos e boas notícias, economista-chefe da CNC fala sobre desafios do comércio no Brasil
A estimativa considerava, entre segunda quinzena de março e a primeira semana de junho, o volume que deixou de ser vendido desde o início das medidas de isolamento social contra a disseminação da COVID-19.

Na época, a CNC estimou uma retração recorde de 8,7% do volume de vendas do comércio varejista até o fim de 2020.

Ainda no mês de junho, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estimou, para o conceito ampliado, que inclui os segmentos de veículos e material de construção, um recuo de 10,1%, também o mais agudo da série histórica da Pesquisa Mensal de Comércio do instituto.

Questionado sobre as previsões da CNC divulgadas no primeiro semestre, o economista afirmou que "a pandemia interferiu dramaticamente no comércio. Acompanhamos, naquele período, decretos regionais estabelecendo o fechamento de segmentos inteiros do varejo considerado não essencial, como vestuário, eletrodomésticos, eletrônicos, automotivo...".

O tom pessimista, porém, com a chegada do segundo semestre e abertura gradual de alguns setores econômicos, mudou. Fábio Bentes afirmou à Sputnik que a confiança do mercado voltou.

Segundo ele, "em termos de venda de fim de ano, a expectativa é de que no natal, por exemplo, tenhamos uma alta de 2% com relação ao mesmo período de 2019. Uma movimentação financeira de cerca de R$ 37,5 bilhões. A recuperação do setor como um todo já ocorreu, mas alguns segmentos ainda preocupam, como papelarias, livrarias e vestuário".

Apesar da referida melhora nos números do comércio brasileiro, o economista-chefe da CNC aponta que a redução do auxílio emergencial do governo federal, previsto para o último trimestre do ano, pode ter repercussões negativas.

"Sabemos que, passada a fase mais aguda da pandemia, em julho e agosto, passamos a observar taxas expressivas de crescimento nas vendas. A expectativa é que o varejo cresça, mas em ritmo menor, até porque o auxílio emergencial do governo, instrumento importante para viabilizar a economia, vai ter um valor de ticket médio no último trimestre do ano correspondente a metade daquilo que se pagava em agosto. Isso tende a afetar o consumo", disse o especialista.

A razão pela qual se verifica tamanha responsabilidade do auxílio federal na recuperação do comércio varejista é que o dinheiro dado pelo governo, uma vez em circulação, disfarça, de certo modo, outro problema: o fechamento de milhares de empresas.

"No ápice da crise, perdemos 500 mil empregos formais e 135 mil estabelecimentos. São dados da primeira metade do ano, e não levam em consideração da recuperação da qual falávamos. Desses 500 mil postos de trabalho perdidos, parte já foi recuperada, cerca de 15%... 20%. Em termos de empresas fechadas, o processo é mais lento. Demanda de mais confiança dos empresários. A tendência é fechar 2020 com 90 mil empresas fechadas no varejo. Este é um número extremamente negativo, mas, diante do ocorrido, é um resultado para se comemorar".

Os dados que o economista faz questão de celebrar foram publicados pelo IBGE em outubro. Segundo o instituto, o volume de vendas do comércio varejista em julho de 2020 cresceu 5,2% em relação ao mês anterior, depois de altas de 8,5% em junho e de 13,3% em maio.

Já em junho o indicador geral do comércio mostrava que as perdas causadas pela pandemia já tinham sido praticamente recuperadas. O resultado de julho, em volume de vendas, é 5,5% maior do que o de um ano antes. Trata-se do melhor resultado na comparação interanual para julho desde 2013.

E-commerce

Segundo uma pesquisa da CNC, o número de transações no e-commerce brasileiro vem crescendo nos últimos meses.

Em fevereiro de 2020, a média diária de transações comerciais on-line no país era de aproximadamente 650 mil operações. Em março, o quantitativo diário médio subiu para 720 mil compras, avançando para 970 mil em abril e 1,2 milhão em maio, um crescimento de 122% em relação ao mês de maio de 2019.

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