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Uso de militares para combater desmatamento é 'opção ideológica do governo', diz ambientalista

O uso das Forças Armadas na Operação Verde Brasil 2, iniciada em maio, foi prorrogada até 30 de abril de 2021. Especialista ambiental ouvido pela Sputnik Brasil disse que a ação não deve ter efeitos na diminuição do desmatamento e das queimadas.
Sputnik

A operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) das Forças Armadas na Amazônia, a Verde Brasil 2, tem como objetivo auxiliar em ações contra delitos ambientais praticados na região, que abrange os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e parte dos estados de Mato Grosso, do Tocantins e do Maranhão.

O analista ambiental do ICM Bio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), Denis Rivas, em entrevista à Sputnik Brasil, afirmou que são instituições como o Ibama e o Instituto Chico Mendes que têm a experiência de detectar os locais onde estão ocorrendo os crimes de desmatamento em curso de fato.

De acordo com ele, os militares seguem diretrizes vindas da presidência de não queimar, destruir, equipamentos que estão em prática de crime ambiental.

"O governo tem insistido de continuar com a Operação Verde Brasil ou a Garantia da Lei e da Ordem [GLO] para o resto do período do governo, então a gente está vendo que eles não têm intenção de fortalecer os órgãos ambientais que de fato têm essa missão de combater os ilícitos ambientais", destacou.

Denis Rivas, que também atua como presidente da Ascema (Associação Nacional dos Servidores da Carreira de Especialista em Meio Ambiente) observou que a operação dos militares é extremamente custosa.

"Um mês de Garantia da Lei e da Ordem equivale a praticamente um ano de toda a fiscalização do Ibama, então a operação GLO não se mostra uma estratégia das mais inteligentes no combate ao desmatamento. É uma opção ideológica do governo acionar os militares", argumentou o especialista.

De acordo com ele, a operação militar nesse caso se justifica no sentido de "dar uma resposta à opinião pública".

"Mas os dados dos satélites não mentem, o desmatamento só tem aumentado em 2019 e 2020. Se continuar essa estratégia, 2021 a gente vai continuar a ver esse cenário de descontrole do desmatamento se repetir", afirmou Denis Rivas.

O analista ambiental lembrou ainda que o vice-presidente Hamilton Mourão chegou a declarar que o governo pretende impor uma nova doutrina no Ibama e no ICM Bio.

"A doutrina que é seguida nesses órgãos é o cumprimento da legislação ambiental. Então parece que é esse o problema para o governo federal, não ter o interesse de fazer cumprir as leis de proteção ao meio ambiente", completou.

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