Desde junho, pelo menos dez cidades chinesas encontraram embalagens de alimentos congelados importados contaminadas pelo coronavírus em zonas alfandegárias, como carne bovina e camarão do Brasil, junta de porco da Alemanha, e camarão da Arábia Saudita, mostrando que o vírus pode resistir a baixas temperaturas por muito tempo.
A cidade de Qingdao, no leste da China, relatou infecções, onde dois "pacientes zero" do surto na cidade trabalhavam em um frigorífico. Durante rastreamento do ambiente de trabalho, foi encontrado bacalhau congelado importado também contaminado. Em outubro, o município de Tianjin, no norte da China, também descobriu que um carregador havia sido infectado.
Wu Zunyon, epidemiologista-chefe do Centro para Controle e Prevenção de Doenças da China, revelou à instituição de controle do Partido Comunista da China, a Comissão Central de Inspeção Disciplinar, que os pacientes com COVID-19 estavam concentrados entre os vendedores de frutos do mar congelados no mercado de Wuhan.
Entretanto, o Global Times descobriu que o mercado de frutos do mar de Huanan, em Wuhan, contava com várias lojas que vendiam alimentos congelados importados. O surto de junho em Pequim, por exemplo, começou em um mercado que também vendia alimentos congelados importados.
Os casos são fortes sugestões de que alimentos congelados importados com o coronavírus podem transmiti-lo às pessoas e infectá-las, segundo os especialistas.
Para evitar novas infecções causadas por alimentos importados, o Ministério dos Transportes da China divulgou recentemente orientações sobre como realizar a desinfecção de alimentos importados durante o processo de transporte.
Um estudo recente pelo Instituto Nacional do Câncer de Milão, na Itália, descobriu o novo coronavírus em amostras de sangue coletadas em outubro de 2019, informou a Reuters na segunda-feira (16). Quatro voluntários em um teste de rastreamento de câncer de pulmão desenvolveram anticorpos para o coronavírus no início de outubro de 2019, muito antes da descoberta de infecções em Wuhan.
Pesquisas anteriores conduzidas pela Universidade de Barcelona, na Espanha, mostraram a presença do vírus em amostras de esgoto da cidade em março de 2019.
"No passado, quando fazíamos rastreamento de vírus, sempre procurávamos hospedeiros intermediários, muito provavelmente um animal. É hora de reexaminar se o surto em Wuhan começou com uma pessoa infectada, ou com comida contaminada", contou Yang Zhanqiu, vice-diretor do Departamento de Biologia de Patógenos da Universidade de Wuhan, ao Global Times.
A possibilidade de a epidemia de Wuhan ter sido causada por alimentos congelados importados não pode ser descartada se o mercado de frutos do mar de Huanan tivesse esses produtos à venda, ponderou Wang Guangfa, especialista em respiração do Primeiro Hospital da Universidade de Pequim, ao Global Times.
Porém, os especialistas chineses também são cautelosos ao chegar a uma conclusão porque, embora as evidências primárias mostram semelhanças entre as sequências virais dos surtos de Wuhan e aquelas encontradas no exterior, até agora nenhuma evidência direta pode verificar a ligação da infecção.
Ainda há muito que se desconhece sobre o coronavírus e o rastreamento da fonte não foi concluído, disse o especialista respiratório chinês, Zhong Nanshan, na segunda-feira (16).