Quase 20% dos sobreviventes da COVID-19 podem ter distúrbios mentais dentro de 3 meses após contágio

Ainda que o efeito do coronavírus na saúde mental é mais destacado que o de outras doenças analisadas pelos cientistas, ainda é necessário determinar se é devido a uma causalidade ou correlação provocada por terceiros fatores.
Sputnik

O contágio com o vírus aumenta consideravelmente o risco de transtornos mentais como depressão, ansiedade ou insônia, afirma uma equipe de pesquisadores britânicos em um estudo publicado pela revista Lancet Psychiatry.

Após analisar 62.354 históricos médicos de norte-americanos que sofreram da doença, os pesquisadores descobriram que 5,8% dos que não apresentavam doenças mentais confirmadas previamente receberam diagnóstico psiquiátrico entre 14 e 90 dias posteriores ao contágio. Em relação aos que sofriam algum transtorno antes de contrair o vírus a taxa dos diagnosticados se elevou em 18,1%.

Ainda assim, entre as pessoas maiores de 65 anos, o risco de diagnóstico de demência foi de 1,6%.

Para comparar o impacto da COVID-19 com outras doenças, os pesquisadores analisaram os históricos médicos de pacientes que sofreram no mesmo período uma destas seis doenças: gripe, outras infecções da via respiratória, infecção da pele, pedras na vesícula, pedras na via urinária e fratura de um osso grande.

Quase 20% dos sobreviventes da COVID-19 podem ter distúrbios mentais dentro de 3 meses após contágio

Descobriram, então, que o efeito do coronavírus na saúde mental é mais pronunciado. Por exemplo, a taxa total de diagnósticos com distúrbios mentais após a gripe é de 13,3% e 3,3% entre aqueles que não apresentavam esses transtornos anteriormente.

Contudo, os cientistas destacaram que ao apresentar um transtorno mental diagnosticado um ano antes da pandemia o risco de desenvolver a doença vai para 65%.

"Aqueles que sobreviveram à COVID-19 parecem ter um maior risco de sequelas psiquiátricas, e um diagnóstico psiquiátrico poderia ser um fator de risco independente para a COVID-19. Ainda que preliminares, nossas descobertas têm implicações para os serviços clínicos", indicam os autores do artigo.

Causalidade ou correlação?

Em um comentário ao jornal Guardian, Paul Harrison, membro da equipe, salientou que a relação direta entre o coronavírus e os transtornos mentais ainda não foi comprovada. De fato, poderia se tratar da influência de terceiros fatores, como a pobreza ou maior possibilidade de ser diagnosticado com uma doença pré-existente ao ser hospitalizado.

No entanto, Harrison advertiu que "não é nada improvável que a COVID-19 possa ter algum efeito direto no cérebro e na saúde mental. Porém, creio que, de novo, resta provar positivamente".

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