O premiê israelense, Benjamin Netanyahu, advertiu Washington no domingo (22) para não voltar a participar do Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, na sigla em inglês).
"Não deve haver retorno ao acordo nuclear anterior. Devemos manter uma política intransigente para garantir que o Irã não desenvolva armas nucleares", disse ele, discursando em uma cerimônia comemorativa ao primeiro premiê israelense, David Ben-Gurion (1948-1954 e 1955-1963).
"Graças à nossa posição determinada contra a nuclearização do Irã, e à nossa oposição ao acordo nuclear com o Irã, muitos países árabes mudaram fundamentalmente sua abordagem em relação a Israel", acrescentou Netanyahu, em referência aos acordos de normalizações das relações assinados por Tel Aviv.
O primeiro-ministro israelense não mencionou Joe Biden pelo nome, mas várias mídias israelenses, incluindo The Jerusalem Post, i24 e ynet, interpretaram as observações como uma mensagem ao presumível presidente eleito.
Israel pressionou com sucesso a administração Trump a sair do acordo nuclear iraniano em maio de 2018, com o primeiro-ministro Netanyahu realizando pessoalmente uma apresentação de inteligência na qual ele alegava que o Mossad (serviço secreto do Estado de Israel), havia se infiltrado em um arquivo nuclear secreto em Teerã e levado consigo dezenas de milhares de documentos, provando que o Irã havia "mentido" para o mundo sobre seu programa nuclear.
Dias após a apresentação, a Casa Branca anunciou que cancelaria seu compromisso com o JCPOA, e restabeleceria sanções punitivas contra a República Islâmica.
Em 11 de novembro, o ex-conselheiro de segurança nacional de Trump, Herbert R. McMaster, advertiu ao canal Fox News que Israel não permitiria que o Irã desenvolvesse armas nucleares em nenhuma circunstância, e disse que não poderia descartar a possibilidade de ataques "preventivos" israelenses a um programa nuclear iraniano.
Posição do candidato democrata
Biden, que pode assumir a presidência em 20 de janeiro, a não ser que os desafios legais do presidente Donald Trump citando suspeitas de fraude eleitoral sejam bem sucedidos, expressou vontade de regressar ao acordo nuclear em um artigo na edição de março/abril de 2020 da revista Foreign Affairs.
O ex-vice-presidente norte-americano indicou que a reentrada dos EUA no acordo exigiria o "estrito cumprimento do acordo" pelo lado iraniano. De resto, sua campanha insinuou a possibilidade de "renegociar" o acordo nuclear.
Críticas pelo Irã
Em outubro de 2020, o chanceler iraniano Mohammad Javad Zarif, criticou os EUA e Israel por suas atividades nucleares, convidando a comunidade internacional a pressionar Tel Aviv a aderir ao Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, e ressaltando que os EUA foram o único país a usar uma arma nuclear contra outro país, em referência aos bombardeamentos atômicos às cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki em 1945.
Assim como a Coreia do Norte, Israel mantém uma política de "ambiguidade nuclear", não fornecendo informações oficiais sobre suas capacidades em matéria de armas nucleares.
No entanto, ao contrário de Pyongyang, Tel Aviv não foi submetida a pressões internacionais para eliminar seu arsenal nuclear. O Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo (SIPRI, na sigla em inglês) suspeita que Israel possui cerca de 90 ogivas nucleares, incluindo o míssil balístico intercontinental Jericho III, que tem um potencial alcance de até 11.500 quilômetros, e a capacidade teórica de alcançar qualquer ponto na maior parte do hemisfério norte.