A nova onda de contágios pelo novo coronavírus já acontece na Europa e levou muitos países do continente a reforçar as medidas de isolamento social.
A economia brasileira apresenta dificuldades para retomar o crescimento, com taxas cada vez maiores de desemprego e perdas generalizadas por causa da pandemia. A crise afeta o bolso da população, que se reflete na mesa das famílias, devido à forte alta no preço dos alimentos.
Em uma apresentação recente, o Ministério da Economia estimou que as medidas de combate ao novo coronavírus colocadas em prática pelo governo do presidente Jair Bolsonaro chegarão a 8,6% do PIB neste ano.
"Se uma segunda onda vier para o Brasil já temos os mecanismos. Digitalizamos 64 milhões de brasileiros. Então sabemos quem eles são, onde estão, o que precisam para sobreviver", disse o ministro na semana passada, ao participar de um fórum virtual promovido pela Bloomberg, conforme noticiou o Extra.
O que dizem os economistas?
O professor de Economia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Oswaldo Ferreira Guerra, em entrevista à Sputnik, diz esperar que o ministro esteja certo, mas que temos que pensar em duas dimensões: a econômica e a política.
"É fundamental que o auxílio emergencial, que foi de R$ 600,00 no começo aqui no país, seja mantido, caso tenhamos efetivamente uma segunda onda de COVID-19, o que parece que vai ocorrer. Sem esse auxílio emergencial — para essa massa imensa da população brasileira que tem baixíssimos rendimentos ou rendimento quase nenhum — é difícil termos um melhor quadro", afirmou Guerra.
A Sputnik ouviu também o economista, Raul Velloso, consultor econômico e ex-secretário de Assuntos Econômicos do Ministério do Planejamento no governo José Sarney.
Ele concordou com seu colega, afirmando que o dinheiro destinado à renda básica emergencial deve ser mantido, no mesmo valor que foi criado na origem, de R$ 600,00 por mês, e acrescentou: "Eu prorrogaria até o meio do ano que vem essa ajuda e aí prestaria atenção para ver como tudo reage. Só isso vai poder dizer o que fazer no momento seguinte", afirmou Velloso.
Guerra explicou que todos os países estão gastando mais nesse período de pandemia, e o Brasil não pode pensar diferente. Segundo ele, o auxílio é gasto em consumo pelas classes baixas, o que ajuda a economia do país a se movimentar, fato necessário nesse momento.
Politicamente falando, Guerra explicou que "para o país lidar melhor com a COVID-19, é necessário que o governo, especialmente o presidente da República, passe a ter um discurso menos irresponsável", porque ficar afirmando que a COVID-19 é uma gripezinha, é um "negacionismo que só contribui para que as pessoas pensem que estão vivendo em um período normal, quando não estamos vivendo em um período normal".
Desemprego e déficit público
Em relação ao desemprego crescente e dificuldades do empresariado, na opinião de Guerra o auxílio emergencial deve ser mantido no valor atual e se possível em um valor até mais alto, apesar da questão do déficit público, pois ele não defende que haja irresponsabilidade fiscal.
"Mas nesse momento estamos vivendo uma excepcionalidade, e todos os países do mundo estão injetando recursos na economia. Dada a taxa de crescimento que estamos vivendo aqui no país e dada a brutal desigualdade econômica é muito importante o auxílio", explicou o economista.
Segundo Guerra, se não houver uma eficácia das vacinas e o país não for capaz de vacinar sua população, a projeção de crescimento da economia para o ano que vem vai se reverter, infelizmente, e em 2021 o país vai ter um PIB negativo.
Ele avaliou que uma possível segunda onda de contágios pela doença nesse final do ano poderia representar para o país uma herança estatística para o próximo ano muito forte, e o impacto seria uma postergação da retomada da economia brasileira, dependendo da intensidade dessa segunda onda e da eficácia ou não das vacinas que estão sendo imaginadas.
Velloso avaliou que por mais incompetente que o setor público seja, o aprendizado do que ocorreu até agora sem dúvida alguma ajudará em uma segunda fase para reagir aos problemas da COVID-19.
"Em relação ao empresariado, o governo deve ampliar o crédito ao setor privado em geral, através do Banco Central, pois não é um dinheiro a fundo perdido, é um dinheiro que volta", explicou Velloso.
O consultor econômico declarou que não se deve temer um impacto negativo na economia, caso ocorra uma segunda onda de contágios, com medo de uma maior pressão inflacionária, pois a economia está bastante desaquecida desde o começo da crise causada pelo novo coronavírus.
Setor de agronegócio foi o menos afetado
Guerra avaliou que os setores mais afetados pela pandemia foram "a indústria e o comércio". Já o menos afetado foi o agronegócio, que teve uma capacidade de resposta muito positiva, porque se beneficiou do cenário internacional favorável e também de um aumento de demanda dentro do próprio país.
Velloso completou dizendo que os setores mais afetados pela pandemia são todos aqueles que não têm uma capacidade de se integrar com o resto da economia. "Já o agronegócio é aquele que devido à demanda interna e externa vai passar incólume por essa crise".