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Inflação pode ficar na meta, mas 'não deve ser comemorada', diz especialista

Em entrevista à Sputnik Brasil, André Braz, economista da Fundação Getúlio Vargas e do Instituto Brasileiro de Economia, explica o cenário da inflação no país diante da subida nos preços dos alimentos, que vem atormentando a população durante a pandemia.
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Braz estima que a inflação deste ano deve ficar entre 3,6% e 3,7% – ou seja, abaixo da meta, que é de 4%. No entanto, segundo o especialista, isto não significa motivo para comemoração, já que cerca de 70% desta inflação vem do aumento do preço dos alimentos.

"O resultado se aproxima da meta pelo choque que o preço dos alimentos registrou diante da desvalorização cambial. E não exatamente por uma aceleração da atividade econômica, como se espera. Essa aproximação da meta de inflação não deve ser comemorada, exatamente pelo impacto que a alimentação apresentou na inflação de 2020", diz Braz.

O desejável, explica o economista, é que a meta de inflação seja alcançada, mas que venha acompanhada pelo aumento da oferta de produtos e serviços, com aquecimento da atividade econômica e diminuição do desemprego. Desta forma, o PIB cresce junto com a inflação.

Inflação um pouco acima da meta em 2021, mas sem descontrole

Para 2021, Braz diz que "não acredita em descontrole inflacionário" e estima que a inflação deve ficar um pouco acima da meta, que é de 3,75%. O economista aposta também que o desafio cambial brasileiro vai permanecer.

"Agentes econômicos que poderiam investir no Brasil buscam investir em outras nações exatamente para proteger seu capital diante da incerteza doméstica. Essa saída de capital do Brasil provoca uma depreciação forte na taxa de câmbio", explica Braz
Inflação pode ficar na meta, mas 'não deve ser comemorada', diz especialista

Além disso, Braz ressalta que a taxa de juros brasileira recuou "fortemente nos últimos anos". Esse recuo, segundo ele, acaba estimulando a saída de recursos, uma vez que o Brasil remunera menos o capital que vem de outros países.

Desta forma, tanto pela fragilidade fiscal como pela queda na taxa de juros, o Brasil passa por um momento de elevada desvalorização cambial. Segundo Braz, este cenário gera um desafio na inflação: enquanto as exportações crescem, a inflação sobe.

"Se por um lado isso é bom para a nossa balança comercial, porque todo país que exporta obtém recursos, por outro lado é um desafio a mais para a inflação, porque tudo que é exportado acaba desabastecendo o mercado brasileiro e forçando o aumento de preços", diz Braz. 

Para que o PIB cresça junto com a inflação, o economista diz que o "dever de casa" do governo deve ser traçar uma estratégia para reduzir a despesa pública e aumentar a arrecadação. No entanto, idealmente isto não deveria comprometer o fôlego do governo em ajudar a população diante da crise provocada pela pandemia de COVID-19, segundo o especialista.  

"O governo precisa reduzir suas despesas, e esta não é uma missão trivial. Reduzir despesas em um ano complicado, em que o governo ainda precisa amparar muito a população que foi afetada pelo coronavírus, é um desafio muito grande para qualquer economia, principalmente para a brasileira, que vem fragilizada de alguns anos por um PIB muito fraco", finaliza Braz.
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