A morte de Cernobori, 59 e pai de três filhos, já é a oitava morte ligada a ataques de tubarão na Austrália este ano, sendo essa a maior onda de ataques em quase um século. O recorde foi atingido em 1929, contando nove casos. Nas últimas décadas, a média anual tem sido de apenas um, segundo o jornal Deccan Herald.
Quais seriam as possíveis causas para o aumento das mortes?
Esta questão incomoda muitos na Austrália, onde a pressão pública está aumentando para que as autoridades tomem medidas mais duras no intuito de proteger a costa do país neste verão, à medida em que as pessoas emergem da sombra da quarentena pelo coronavírus, e avidamente vão direto para praia.
Os cientistas consideram os números elevados chocantes e se perguntam quais forças podem estar em jogo. Culum Brown, professor de biologia marinha na Universidade Macquarie, em Sydney, estuda o comportamento dos tubarões, e afirma que "oito casos estão certamente fora da escala, e ainda nem terminamos o ano".
Uma questão de azar?
As perdas deste ano foram angustiantes: entre as vítimas estão um mergulhador experiente e um surfista adolescente. A busca por outro homem foi cancelada, após dias de procura. Outros sobreviveram, embora traumatizados e gravemente feridos pelos cruéis predadores.
"Há muitas variáveis confusas", disse Phoebe Meagher, gerente do Arquivo Australiano de Ataques de Tubarão, onde são contidos os dados de interações entre humanos e tubarões, incluindo os que resultam em fatalidades.
Segundo Meagher, embora o número de pessoas que morreram em ataques de tubarões este ano seja maior, o número total de encontros não provocados, um total de 20, ainda está dentro da média.
Mesmo com o número de óbitos mais elevados, os cientistas garantem que a chance de um humano ser atacado por tubarões ainda é baixa. Na verdade, é mais provável morrer por conta de um raio ou acidente de trem, ou por congelamento, do que por um ataque de tubarão.
Será consequência das mudanças climáticas?
Brown também disse que as mudanças climáticas, que geram o aquecimento do oceano, podem estar levando os tubarões para um território mais frio, ao mesmo tempo que mais pessoas migram para a praia nos dias quentes.
Os australianos foram autorizados a visitar à praia mesmo sob restrições do coronavírus em alguns estados, o que pode ter contribuído para um maior número de multidões e surfistas. Mas isso não explicaria por que o número total de interações entre tubarões e pessoas permanece o mesmo.
Outros cientistas sugeriram que a mudança na temperatura do oceano pode estar influenciando os locais de caça dos tubarões, levando-os às praias mais povoadas.
Perseguindo e se alimentando de baleias jubarte
Outra teoria é que os tubarões podem estar seguindo as baleias jubarte - cujas populações cresceram nos últimos anos - em sua migração anual para o norte da Antártica e, oportunisticamente, se alimentando das que morrem ao longo do caminho.
"Os tubarões estão simplesmente indo para onde suas presas estarão" disse Vanessa Pirotta, que também pesquisa predadores marinhos na Universidade Macquarie, na Austrália. Porém, acrescenta que mais baleias não significam necessariamente mais tubarões.
É importante relembrar que os tubarões não caçam humanos ativamente, mas podem atacar quando se sentem ameaçados ou confundi-los com outras presas. Imagens de drones, dizem os cientistas, mostraram que os tubarões costumam nadar na mesma água que os surfistas e banhistas, sem atacá-los.
Atualmente, os cientistas estão explorando soluções que incluem acoplar luzes LED ao fundo das pranchas de surfe para evitar que tubarões confundam surfistas com focas.
O que farão as autoridades?
Brown conta que os governos estaduais têm investido em medidas de proteção de praias, incluindo armadilhas para os animais, uso de drones para rastreá-los, e cercar as praias com redes de tubarões, mas sem resultados positivos.
As mortes também reacenderam o debate sobre o abate das criaturas, que os ativistas dos direitos dos animais consideram desumano.
Redes colocadas ao redor das praias para proteger os nadadores também resultaram na morte acidental de milhares de outras criaturas marinhas, incluindo tartarugas, arraias e mamíferos aquáticos chamados dugongos.
No final, o governo australiano ainda não está nem na metade do caminho para encontrar uma solução concreta para este problema.