Eleitores de 57 cidades do Brasil, incluindo 18 capitais, vão às urnas neste domingo (29) para decidir, em segundo turno, quem serão os prefeitos de seus respectivos municípios de 2021 a 2024.
Segundo Márcio Coimbra, cientista político e coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Mackenzie, em Brasília, o segundo turno repetirá o primeiro em um aspecto: a pandemia será a questão central para determinar os vencedores.
"Os eleitores buscaram administradores que souberam entregar resultados palpáveis na administração da pandemia, preservando vidas, e rejeitando aqueles que tiveram um posicionamento negacionista", diz Coimbra.
A polarização vista nas eleições 2016 e 2018 foi enfraquecida em 2020 – e isso, segundo Coimbra, tem muito a ver com a pandemia. Isto porque desta vez os eleitores deram preferência àqueles que melhor responderam à crise da pandemia – e não necessariamente aqueles com discursos mais alinhados às ideologias de esquerda ou direita. Por conta disso, o cientista político argumenta que os "outsiders" da política, que são mais extremistas e têm campanhas pautadas em "narrativas e grandes promessas", não tiveram bom desempenho.
"Aqueles outsiders eleitos em 2016 só foram reconduzidos se souberam mostrar manejo político capaz de entregar resultados de defesa da sua população na pandemia, como foi Kalil em Belo Horizonte, reeleito no primeiro turno. Mas em sua maioria eles tiveram enormes problemas, porque, por não serem políticos, não souberam administrar a pandemia", disse Coimbra.
Um destes outsiders, segundo Coimbra, é o presidente Jair Bolsonaro, que não teve bom desempenho nestas eleições. Para o especialista, este é um indicativo do que se pode esperar para as eleições presidenciais de 2022.
"Onde Jair Bolsonaro apoiou candidatos, eles acabaram naufragando. [...] O bolsonarismo não se mostrou resiliente e sucumbiu simplesmente dois anos após a eleição de Jair Bolsonaro para presidente. Isso nos dá uma senha para as eleições de 2022”, afirma o especialista.
Para especialista, São Paulo terá dois vencedores
Coimbra deixa suas apostas para as eleições nas duas maiores capitais do país: Rio de Janeiro e São Paulo. No Rio, o especialista crava: Eduardo Paes será eleito.
"Crivella tem 65% de rejeição. Na ciência política nós sabemos que candidatos com mais de 40% de rejeição não conseguem ser eleitos, porque não conseguem 50% dos votos, considerando as abstenções. Crivella não possui chance alguma de vencer esta eleição. Eduardo Paes está, com certeza, confirmado como o novo prefeito do Rio de Janeiro", afirma Coimbra.
Já em São Paulo, Coimbra aposta que Covas será eleito – mas isto não significa que Boulos saia derrotado. Segundo o cientista político, as eleições em São Paulo terão dois vencedores: Covas pelo maior número de votos, e Boulos por se afirmar como um dos principais nomes da esquerda no país.
"Eu tenho uma tese. Eu não acredito que Boulos esteja concorrendo à prefeitura de São Paulo. Na minha opinião, ele está concorrendo à presidência da República em 2022. Ele precisava usar a candidatura à prefeitura de São Paulo como uma grande plataforma onde ele teria visão nacional. Considerando este objetivo, ele já saiu vencedor", diz Coimbra.
Diante da ascensão de Boulos no cenário político nacional, Coimbra acredita, inclusive, em uma possível dobradinha entre PSOL e PT para 2022.
"Boulos conseguiu projetar seu nome nacionalmente e com isso se credencia de forma mais robusta para o ciclo eleitoral de 2022, podendo inclusive ter um vice como o presidente Lula, se ele se tornar elegível, como se espera", finaliza o especialista.