Pazuello disse que são muito poucos os fabricantes que têm a quantidade e o cronograma de entrega efetivo para atender o país. "Quando a gente chega ao final das negociações e vai para o cronograma de entrega, fabricação, os números são pífios. Números de grande quantidade, realmente, se reduzem a uma, duas ou três ideias. A maioria fica com números muito pequenos para o nosso país", afirmou o ministro, em audiência pública da comissão mista do Congresso que acompanha as ações do governo contra a COVID-19.
A Sputnik ouviu o médico epidemiologista Fernando Barros, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas no Rio Grande do Sul, que falou sobre essa questão. Mais otimista, ele acredita que a situação em torno dos números divulgados por Pazuello — 15 milhões de doses da vacina em janeiro e fevereiro, 100 milhões de doses no primeiro semestre e 160 milhões mais para o segundo semestre do próximo ano — vai se modificar.
"Foi uma avaliação inicial dele [Pazuello]. Eu creio que logo nós vamos ter umas quatro ou cinco vacinas já aprovadas, nesse momento nós já temos a da Pfizer e da Moderna que já tem resultado publicado e já estão começando a ser utilizadas nos EUA e na Europa. Imagino que a vacina chinesa, a CoronaVac, logo também vai ser aprovada e o [Instituto] Butantan vai começar a produzir", avaliou o especialista.
Barros disse que a AstraZeneca e a Universidade de Oxford se complicaram um pouco no relatório preliminar sobre sua vacina, mas que eles também vão conseguir a liberação da Anvisa e dos órgãos de vigilância dos outros países.
"As vacinas de RNA mensageiro, da Moderna e da Pfizer, que precisam de ultrafreezers, não acho que seja impossível que o Brasil tenha também, basta comprar os equipamentos necessários e ter nas capitais, e depois distribuir a vacina, que as empresas dizem que entregam com as caixas de gelo seco", continuou Barros.
Segundo ele, a obrigação do governo é fornecer vacina contra a COVID-19 para toda a população: "Por enquanto não temos liberação para crianças, que não foram testadas. Não é possível que o governo vá dar a vacina para metade da população, deixando de fora, por exemplo, quem tem menos de 60 anos. Isso não vai acontecer", avaliou.
Uma questão que se observa nos números citados pelo ministro da Saúde é que serão necessárias duas doses do imunizante para cada cidadão, e que dentro da quantidade prevista, não haveria vacina para todo mundo. Barros reafirmou que o que pode ser feito agora é obedecer às regras de distanciamento social e higienização, para que esse grande número de contágios que estão acontecendo no momento diminua até a chegada do imunizante.
"A única forma de evitar a mortalidade e a infecção é a proteção individual, não entrando em contato com outras pessoas", disse o especialista.
Para finalizar, Barros comentou que a luta contra a doença, contra a pandemia, "a mais importante nesse último século", tem que ser feita como se "fôssemos para a guerra".
"Hoje li um comentário que a Ford, nos EUA, está começando a produzir ultrafreezers, para as vacinas que precisam ser armazenadas nesse tipo de equipamento. Isso chama a atenção, porque durante a Segunda Guerra Mundial, as fábricas de automóveis nos EUA pararam de fabricar automóveis e começaram a produzir tanques e equipamentos de guerra para lutar contra o nazismo. Agora a guerra é contra um vírus", concluiu o especialista.