Dados da Confederação Nacional do Comércio indicam que houve uma redução do endividamento das famílias em novembro, pelo terceiro mês seguido. Segundo o levantamento, no mês passado, 66% das famílias se declararam endividadas, contra 66,5% em outubro.
Com a aproximação das festas de final de ano, as dívidas retornam para níveis mais próximos daqueles anteriores à pandemia, animando o setor de serviços. Mas, com muitas pessoas ainda dependentes do auxílio emergencial, cuja última parcela começa a ser paga nesta semana, nem todos devem investir em grandes compras. Ainda assim, a expectativa para o comércio no período é de crescimento, como destaca em entrevista à Sputnik Brasil o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fábio Bentes.
"É bom lembrar que boa parte do consumo no varejo se dá via endividamento. Então, acredito que mesmo essa redução no número de endividados nos últimos meses, claro, mostra uma tendência de cautela por parte do consumidor e mostra também uma situação um pouco menos grave do que o esperado durante o auge da pandemia. De qualquer forma, a expectativa para o comércio neste final de ano é de crescimento nas vendas. Um crescimento baixo, pouco mais de 2%, mas um leve crescimento em relação ao Natal passado, por exemplo."
O especialista atribui a pequena queda no endividamento das famílias brasileiras a dois fatores. De um lado, a "uma reação relativamente rápida do mercado de trabalho", e, de outro, a mais cautela por parte dos consumidores, o que, segundo ele, já é algo mais comum nessa época do ano, devido à expectativa de mais pressões no orçamento em janeiro.
"O nível de endividamento em si está muito parecido com o período anterior à pandemia. Naquela ocasião, o percentual de endividados era de 65% e, agora, em novembro, é de 66%. O que a gente observa é um aumento no percentual de famílias com contas em atraso. Primeiro bimestre, cerca de 24% das famílias tinham contas em atraso. Subiu ao longo dos últimos meses, hoje, está em cerca de 25,7%", aponta.
Bentes alerta que, apesar da redução no endividamento, chama a atenção o grau de inadimplência, referente às famílias que não terão condição de pagar suas dívidas. Esse índice subiu de 9,6% para 11,5% do início ao final de 2020.
"É uma situação um pouco mais preocupante e ela deriva do mercado de trabalho ainda bastante travado. Embora os números tenham começado a melhorar antes do esperado, é bom lembrar que, nos últimos 12 meses, o Brasil eliminou 12 milhões de postos de trabalho. Isso causa esse tipo de comportamento por parte dos consumidores, essa dificuldade em arcar com os compromissos."
Apesar do fim do auxílio emergencial, o economista afirma que o varejo ainda espera ter um "crescimento moderado" pelo menos até o final do primeiro trimestre de 2021.
"Acreditamos que a tendência ainda é de crescimento do varejo, mas um crescimento mais lento do que aquele que se tinha durante o pagamento do auxílio emergencial a R$ 600."