Cientistas acham no mar Morto substâncias que podem ter dado origem à vida na Terra

Pesquisadores russos encontraram pela primeira vez na natureza ciclofosfatos, substâncias que são possíveis precursores das moléculas com fósforo que participaram da formação da vida no nosso planeta.
Sputnik

Cientistas da Universidade Estatal de São Petersburgo, na Rússia, encontraram nas rochas da bacia do mar Morto, localizado parcialmente em Israel e Jordão, ciclofosfatos, compostos quimicamente ativos que nunca tinham sido encontrados na natureza, e que são potencialmente responsáveis pelo surgimento da vida na Terra, segundo um estudo publicado na revista Geology.

O fósforo é um importante elemento químico a partir do qual os organismos vivos são construídos, fazendo parte do DNA, RNA e também das membranas celulares. A formação da vida primária nos primeiros estágios da evolução da Terra precisava de compostos de fósforo que pudessem participar dos processos químicos e se dissolver na água, o que possibilitaria reações de fosforilação, que resultam em moléculas mais complexas.

A destruição da estrutura química dos ciclofosfatos libera energia capaz de iniciar a síntese de compostos organofosforados, razão pela qual estas substâncias são consideradas os principais candidatos ao papel do agente contendo fósforo na formação das moléculas, das quais surgiram as primeiras formas de vida bilhões de anos atrás.

Os autores do estudo sugerem que os ciclofosfatos podem ter se formado como resultado da oxidação a altas temperaturas dos fosforetos, compostos de fósforo que não contêm oxigênio. Os fosforetos são encontrados em nosso planeta em bolsas de atividade geotérmica, incluindo a bacia do mar Morto, onde ocorreram processos geológicos a temperaturas elevadas.

Além disso, os ciclofosfatos podem ter se formado durante a queda maciça de meteoritos no início da Terra. Qualquer corpo cósmico sofre intensa evaporação em alta temperatura e oxidação de sua matéria quando entra na atmosfera de nosso planeta. A equipe de pesquisadores crê que os fosforetos que estavam presentes nos meteoritos, e que passaram por este processo, se oxidaram completamente, o que tornaria possível a formação de ciclofosfatos.

"A raridade dos fosforetos na litosfera moderna não significa que eles não eram comuns na Terra antes, pois o ambiente geoquímico de bilhões de anos atrás era significativamente diferente do de hoje. Com o tempo, a atmosfera da Terra foi ficando cada vez mais saturada com oxigênio, e a oxidação no novo ambiente poderia levar à formação de ciclofosfatos", explicou Sergei Britvin, professor da Universidade Estatal de São Petersburgo, que liderou a pesquisa.

A descoberta dos ciclofosfatos naturais aproxima os cientistas de uma melhor compreensão de como foram sintetizadas as moléculas complexas que levaram ao surgimento da vida em nosso planeta.

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