O termo "chutando a escada" foi idealizado nas relações internacionais pelo autor sul-coreano Ha-Joon Chang. Seu princípio, em síntese, é simples: os países desenvolvidos estão tentando "chutar a escada" pela qual subiram ao topo, ao impedir que os países em desenvolvimento adotem as políticas e as instituições que eles próprios usaram.
Uma pesquisa publicada nesta quarta-feira (9) pela People's Vaccine Alliance (Aliança da Vacina do Povo, em tradução livre) chegou a uma conclusão semelhante a do autor. Segundo a entidade, na Europa, nos Estados Unidos e na maioria dos países do leste asiático, os governos já compraram milhões de doses de vacinas contra a COVID-19, enquanto preparam os planos de vacinação para suas populações.
No Reino Unido, a vacinação em massa dos grupos mais vulneráveis começou nessa terça-feira (8). Estados Unidos e grande parte da Europa já encomendaram vacinas suficientes para imunizar suas populações a partir das próximas semanas.
Enquanto os países ricos adquirem em massa as vacinas disponíveis no mercado, a pesquisa sustenta que os países mais desfavorecidos não terão capacidade para vacinar nove em cada dez pessoas.
De acordo com a pesquisa, os países mais ricos, considerados aqueles com capacidade para comprar doses suficientes das vacinas e proteger a população da COVID-19, representam apenas 14% da população mundial. Contudo, já detêm 53% das vacinas mais promissoras, aponta Agência Brasil.
Um exemplo são as doses da vacina da Pfizer e BioNTech, aprovada no Reino Unido na semana passada, que irão quase todas para os países ricos, uma vez que 96% das doses foram adquiridas pelo Ocidente.
Acesso universal
A People's Vaccine Alliance faz um apelo a todas as empresas farmacêuticas que trabalham no desenvolvimento e produção de vacinas contra a COVID-19 para que compartilhem a tecnologia e propriedade intelectual, por meio da Rede de Acesso à Tecnologia COVID-19 da Organização Mundial da Saúde.
A entidade também pede aos governos que façam tudo que estiver ao seu alcance para garantir que as vacinas se tornem um bem público global - gratuitas, distribuídas de forma justa e com base nas necessidades.
"A acumulação de vacinas prejudica ativamente os esforços globais para garantir que todos, em todos os lugares, possam ser protegidos da COVID-19", afirmou Steve Cockburn, chefe de Justiça Econômica e Social da Amnistia Internacional.
"Os países ricos têm obrigações claras sobre os direitos humanos, não apenas de se abster de ações que possam prejudicar o acesso às vacinas em outros lugares, mas também de cooperar e prestar assistência aos países que dela necessitem", concluiu.