O ministro das Comunicações do Brasil, Fábio Faria, anunciou nesta quinta-feira (10) o lançamento de um cabo submarino de fibra ótica que ligará a cidade de Fortaleza, no Ceará, com o munícipio de Sines, em Portugal.
Segundo Fábio Faria, o lançamento do cabo, que terá mais de seis mil quilômetros de comprimento, ocorrerá na próxima segunda-feira (14), com previsão de conclusão para o segundo trimestre de 2021.
A obra será feita pela empresa EllaLink, proprietária e operadora dos serviços que serão oferecidos pela fibra, e há previsão de expansão para as cidades de Rio de Janeiro e São Paulo, e também para conexões com a África, outros países europeus, ilhas do Atlântico e Guiana Francesa.
"O cabo, em alguns lugares, chega a cinco quilômetros de profundidade. É algo impensável, inimaginável, mas agora nós vamos ter uma conexão direta com a Europa. É uma grande entrega do Ministério das Comunicações que vai ajudar o nosso país no escoamento de dados", afirmou Faria, segundo a Agência Brasil.
Luiz Cláudio Schara Magalhães, doutor em Computação pela Universidade de Illinois (EUA) e professor do Laboratório de Comunicação de Dados da Escola de Engenharia da Universidade Federal Fluminense (UFF), explica em entrevista à Sputnik Brasil que os cabos submarinos são uma tecnologia bastante antiga, que existem no Brasil desde a década de 1850, quando foram instalados os primeiros cabos telegráficos no país.
O professor da UFF, que também participou do projeto CLARA, que fez a interligação por cabos submarinos de fibra ótica entre países da Europa e da América Latina, esclarece que, antigamente, os cabos carregavam sinais elétricos, que precisavam ser regenerados de tempos em tempos. Hoje, com a tecnologia da fibra ótica, os cabos transportam luz, o que permite que eles cheguem muito mais longe sem a necessidade de regeneração do sinal.
Luiz Cláudio assinala que, hoje em dia, os cabos de fibra ótica são cruciais para as comunicações, pois ele têm capacidade muito maior para o transporte de dados e, em comparação com os satélites, têm uma latência muito menor, ou seja, maior velocidade entre o envio de uma determinada mensagem de um ponto ao outro.
"Os satélites, atualmente, têm uma grande desvantagem sobre os cabos, principalmente os de fibra ótica, que é a latência que eles imprimem nas mensagens, ou seja, quando você manda uma mensagem via satélite, o sinal tem que subir 36 mil quilômetros até o satélite e depois descer a mesma distância, ao invés de seguir os seis mil quilômetros de um cabo entre o Brasil e a Europa, que é um décimo dessa distância. Mesmo na velocidade da luz, é necessário um determinado tempo para que a mensagem saia da origem e chegue no destino", comenta o especialista.
Apesar da vantagem sobre os satélites em relação ao tempo, Luiz Cláudio ressalta que a interligação de cabos continentais sempre foi uma tarefa cara e complicada.
"O lançamento do cabo é extremamente complexo e custa muito caro. É uma obra que tem data de início, mas é complicado saber quanto tempo vai realmente demorar, porque, se você encontra uma tempestade, por exemplo, você precisa interromper o lançamento do cabo porque, com o navio se mexendo, ele não permite um bom lançamento do cabo", explica o professor da UFF.
Por se tratar de uma obra cara e complexa, normalmente a passagem dos cabos é feita através de consórcios entre países ou empresas. Segundo Luiz Cláudio, os consórcios permitem que as partes envolvidas dividam os custos de instalação, o que também proporciona maior segurança. Além disso, a tecnologia de fibra ótica permite que um único cabo possa servir como meio de comunicação para diversas empresas, pois cada uma delas usa um comprimento de onda diferente e não há interferência entre elas.
"Em um cabo de fibra ótica, normalmente trafega a comunicação de várias empresas e, hoje em dia, se usa uma tecnologia em que são utilizadas diferentes frequências de luz, chamadas de lâmbidas, o comprimento das ondas, o que faz com que o cabo possa ser utilizado simultaneamente para várias comunicações, cada uma utilizando uma lâmbida diferente", esclarece o especialista.
Atualmente, qualquer informação que sai do Brasil rumo à Europa passa primeiro pelos Estados Unidos, para depois seguir em direção ao Velho Continente, um percurso que leva o dobro do tempo necessário em comparação com uma conexão direta entre as duas regiões.
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Luiz Cláudio lembra que, durante os primórdios da Internet, sequer havia conexão entre as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. Quando alguém enviava um e-mail do Rio para São Paulo, ele tinha que passar primeiro pelos Estados Unidos para depois chegar a seu destino.
"A América do Sul também tinha esse problema. O Brasil, por exemplo, demorou muito tempo para fazer uma interligação com a Argentina, apesar de os países serem vizinhos. Então, a instalação dos cabos de fibra ótica submarinos permite a interligação entre os países de forma mais direta", avalia.
Para o professor do Laboratório de Comunicação de Dados da Escola de Engenharia da UFF, o novo cabo que será instalado entre Brasil e Europa permitirá mais segurança nas comunicações entre os dois continentes, já que fornecerá uma alternativa. Hoje em dia, existe apenas o cabo Atlantis 2 ligando diretamente os dois continentes, sendo que o mesmo é utilizado quase que exclusivamente para transmissão de voz e telefonia.
"É importante a existência de caminhos alternativos, de vários cabos interligando Brasil e Europa, Brasil e EUA, Brasil e os demais países da América do Sul. Há mais de 20 anos houve um incêndio em um túnel em Nova York por onde passavam vários cabos internacionais, que se interconectavam em Nova York. Naquele momento, a Internet parou por causa de um incêndio em um túnel em Nova York. Então, ninguém quer depender de um único caminho entre dois pontos. Já existe um cabo entre Brasil e Europa, que é o Atlantis 2, e o novo cabo entre Brasil e Portugal será mais uma dessas interligações entre Brasil e Europa, o que é muito importante para permitir um caminho alternativo em caso de falhas e também para proporcionar maior número de conexões", conclui o especialista.