O relator da indicação de Cordeiro, o senador Carlos Fávaro (PSD-MT), destacou em seu relatório que o meio ambiente é tema que ocupa espaço central na política e na sociedade norueguesas, sendo objeto de constante diálogo da embaixada do Brasil em Oslo com as autoridades locais. "A Noruega vinha sendo o principal contribuinte do Fundo Amazônia e tem mantido contato com autoridades brasileiras sobre sua reativação", afirmou Fávaro.
O professor de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo (ESPM/SP), Leonardo Trevisan, em entrevista à Sputnik Brasil, declarou que o principal desafio do embaixador Ênio Cordeiro é, em primeiro lugar, recompor a imagem do Brasil na Noruega.
A Noruega é responsável por 93,8% do valor já arrecado pelo Fundo Amazônia, seguida por Alemanha (5,7%) e Petrobras (0,5%). Para ter acesso aos recursos, o Brasil precisa ter desmatamento anual inferior à taxa de 8.143 km² na Amazônia.
"Bastam esses números para ter a ideia da tarefa que tem o embaixador de reconstruir os nossos laços com a Noruega. Em agosto, cinco dias depois que a Alemanha rejeitou o apoio ao Fundo Amazônia, a Noruega acompanhou esse processo. Os danos foram realmente irreversíveis para o Brasil, principalmente enquanto imagem", declarou.
Ênio Cordeiro, que atuou como cônsul-geral em Nova York desde 2018, ao ser sabatinado pela Comissão de Relações Exteriores (CRE) na última segunda-feira (14), afirmou que um dos objetivos do governo brasileiro é retomar os investimentos não reembolsáveis do Fundo Amazônia.
"Nossa mensagem central é que a obstrução dos recursos acaba obstruindo projetos que são muito importantes para o desenvolvimento socioeconômico, para o controle das queimadas e do desmatamento, e para o desenvolvimento sustentável de uma indústria florestal na Amazônia", disse Cordeiro.
Leonardo Trevisan observou que a principal importância do Fundo Amazônia é a colaboração internacional, que, de acordo com ele, se dava não só em termos de recursos financeiros, mas de proteção da imagem do Brasil.
"A Noruega e a Alemanha funcionavam como avalistas desta presença internacional, deste apoio internacional, deste esforço brasileiro de proteger a floresta", afirmou o professor de Relações Internacionais.
"O Fundo Amazônia existe desde 2008, ao longo de praticamente 11 anos ele sustentou essa imagem. Em 2019, com as denúncias um pouco exageradas e apressadas por parte de irregularidades do fundo, porque tanto a Alemanha quanto a Noruega informaram que as suas auditorias não tinham encontrado qualquer irregularidade no uso dos fundos, esta imagem foi diretamente prejudicada", acrescentou.
Em 2019, a Noruega e a Alemanha suspenderam repasses ao Fundo Amazônia após o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, ter alterado as regras do órgão e anunciado a intenção de destinar os recursos captados para indenizar proprietários de terras.
Leonardo Trevisan destacou que o Fundo Amazônia também servia como uma espécie de chancela para o Brasil no contexto internacional sobre a questão ambiental.
"Noruega e Alemanha, com todo o apoio que dão à questão ambiental, chancelavam as atitudes brasileiras com o fundo. Não é só uma questão de recurso", disse.
Pressão da OCDE
O secretário de Comércio Exterior e Assuntos Econômicos do Ministério das Relações Exteriores, o embaixador José Buainain Sarquis, afirmou na última quarta-feira (16) que o governo brasileiro está negociando a reativação do Fundo Amazônia com a Noruega e a Alemanha.
A declaração aconteceu durante o lançamento do Relatório Econômico da OCDE sobre o Brasil, no qual o organismo internacional cobrou o reforço das medidas de combate ao desmatamento e defendeu as atividades do Fundo Amazônia.
Ao comentar as aspirações do governo brasileiro de ingressar na OCDE, Leonardo Trevisan disse que "as últimas posições do governo brasileiro sobre o Fundo Amazônia não colaboram com este processo", considerando o peso que a questão ambiental vem ocupando no cenário internacional.
"Observe que hoje, no Parlamento Europeu, os 'verdes' são o fiel da balança, eles têm 17% dos votos. Basta esta imagem para se ter uma ideia exata de quanto a OCDE, que tem uma espécie de subtítulo 'clube dos ricos', vai prestar atenção à questão ambiental. Não há dúvida alguma que a entrada do Brasil na OCDE também passará por uma recuperação desta imagem na questão ambiental", completou.