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Demora de Bolsonaro em reconhecer Biden foi questão eleitoreira, avalia especialista

Em entrevista à Sputnik Brasil, a professora de relações internacionais da IBMEC-SP Daniela Alves diz que as tensões entre Jair Bolsonaro e Joe Biden não devem ser suficientes para causar grande interferência nas relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos.
Sputnik

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, declarou na última quinta-feira (17) que a demora de mais de um mês do Brasil em reconhecer o resultado das eleições dos EUA é "plenamente normal".

O Colégio Eleitoral dos EUA confirmou na última segunda-feira (14) a vitória do democrata Joe Biden nas eleições presidenciais norte-americanas. O procedimento de reconhecimento da vitória do candidato ganhador normalmente é considerado meramente protocolar, mas este ano ganhou uma importância particular com a recusa do presidente Donald Trump de reconhecer os resultados, acusando as eleições de fraude.

No dia seguinte à confirmação do Colégio Eleitoral, na terça-feira (15), o presidente Jair Bolsonaro parabenizou Joe Biden pela vitória através das redes sociais – tornando-se um dos últimos chefes de Estado a reconhecer a vitória do candidato democrata.

Segundo Daniela Alves, professora de relações internacionais da IBMEC-SP, a "normalidade" da demora em responder não está em questão. Em vez do tempo levado para dar a resposta, o que deve ser avaliado, na opinião de Alves, é o interesse político relacionado a reconhecer ou não a vitória de determinado candidato. Para a professora, o interesse de Bolsonaro foi fortalecer o seu eleitorado.

"Considero que a decisão não surgiu com base em uma orientação técnica sobre os desdobramentos das eleições norte-americanas para a política externa do Brasil, mas em uma avaliação do cenário político interno brasileiro, buscando atender no âmbito do discurso a sua base eleitoral que se movimentava nas redes a favor da candidatura de Trump e sobre possíveis irregularidades que teriam levado à sua derrota", disse a professora Daniela Alves.
Demora de Bolsonaro em reconhecer Biden foi questão eleitoreira, avalia especialista

Uma reportagem do Estadão revelou na última quarta-feira (16) que o embaixador do Brasil nos EUA, Nestor Forster, teria instruído o presidente Jair Bolsonaro com notícias falsas que questionavam a lisura do processo eleitoral norte-americano, além de relatos que indicavam uma possível virada de Donald Trump.

Além disso, Bolsonaro anunciou publicamente diversas vezes a sua preferência por Donald Trump nas eleições americanas. Apesar de uma relação que já começa estremecida entre Bolsonaro e Biden, Alves não acredita que esta tensão resulte em grandes interferências na diplomacia entre Brasil e Estados Unidos, países que são parceiros de longa data.

"O impacto deverá ser avaliado considerando se a relação bilateral adotará tom pragmático, uma vez que os EUA possuem grandes investimentos no Brasil, ressaltando ainda que estes países recentemente assinaram três acordos comerciais inéditos, ou se as divergências estarão no centro dessas relações, o que eu acredito pouco provável devido à importância econômica e estratégica desses países", avalia Alves.

É possível, no entanto, que haja pontuais zonas de atrito entre Biden e Bolsonaro. Estes atritos, segundo a especialista, só poderão ser avaliados "de forma mais assertiva com a definição da agenda de política externa do governo de Joe Biden".

No dia 24 de novembro, Joe Biden anunciou parte de sua equipe de política externa, com nomes que atuaram no governo de Barack Obama. Entre os indicados, Linda Thomas-Greenfield foi nomeada como embaixadora dos EUA na ONU, e o ex-secretário de Estado John Kerry ocupará o cargo de enviado especial do país para as mudanças climáticas.

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