Naufrágio de navio português do século XVI ajuda a descobrir mais sobre antigo comércio de marfim

Além de proporcionar um novo método para estudo das coleções de marfim guardadas em museus, a pesquisa é relevante para a tarefa atual de conservação da vida silvestre.
Sputnik

Depois de quase cinco séculos, foi descoberta a origem de numerosas amostras de marfim recuperadas do naufrágio de um navio comercial português, o Bom Jesus, que afundou em 1533 ao largo da costa da atual Namíbia quando transportava sua carga.

No barco havia 40 toneladas de carga como ouro, prata e cobre, além de mais de 100 presas de elefante. Os pesquisadores conseguiram detalhar os passos do navio, de acordo com o estudo publicado na revista Current Biology.

Usando diferentes técnicas de análise, por exemplo genômica e marcação isotópica, das presas de elefante, eles determinaram sua pertença às diferentes espécies de elefantes, suas origens geográficas e até os tipos de paisagem onde viveram antes de serem caçados.

"Nosso estudo analisou o maior carregamento arqueológico de marfim africano jamais encontrado", destacou a chefe do estudo Alida de Flamingh, pesquisadora da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign, EUA, citada pelo portal Science Daily.

Os pesquisadores descobriram que as presas eram de elefantes das florestas do oeste da África, o que é compatível com localização de centros de comércio portugueses ao longo da costa dessa parte do continente durante a época do naufrágio.

Foi revelado que os elefantes analisados vieram de até 17 linhagens ou famílias, das quais sobreviveram apenas quatro devido à caça e destruição do habitat nos últimos séculos.

A análise de isótopos de carbono e nitrogênio mostrou que, embora os elefantes estudados fossem de florestas, viviam em habitats mistos, ou seja, passavam das áreas florestais às savanas, dependendo das estações, provavelmente segundo a disponibilidade de água.

"Nossos dados nos ajudam a entender a ecologia do elefante da floresta do oeste da África em sua paisagem histórica, o que é relevante para a conservação da vida silvestre de hoje", disse a coautora do estudo Ashley Coutu da Universidade de Oxford, Reino Unido.

Finalmente, de acordo com os cientistas, a pesquisa proporciona um novo método para reconsiderar as coleções de marfim em museus de todo o mundo.

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