A retirada ocorre após grupos de pesquisadores brasileiros enviarem cartas e entrarem em contato com a revista científica com questionamentos éticos sobre o estudo que descreveu a nova espécie, cujos fóssil, segundo os autores do artigo, foi encontrado na Bacia do Araripe em 1995.
De acordo com a lei brasileira, fósseis não podem permanecer definitivamente fora do país. Além disso, para que a saída seja autorizada, é preciso de pelo menos duas autorizações do governo. Os autores do estudo apresentaram somente um documento assinado por um funcionário do antigo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), atual Agência Nacional de Mineração (ANM), do Ministério de Minas e Energia.
Porém, também é necessário um aval do Conselho Nacional de Produção Científica e Tecnológica (CNPq), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. O Ubirajara jubatus está hoje no acervo do Museu Estadual de História Natural de Karlsruhe, na Alemanha.
"A Sociedade Brasileira de Paleontologia [SBP] enviou carta para a revista perguntando se havia outra documentação além da autorização do DNPM. Afirmamos que, se a documentação do CNPq não for apresentada, consideramos que o fóssil saiu ilegalmente do país", disse à Sputnik Brasil o paleontólogo Max Langer, da Universidade de São Paulo (USP), ex-membro da diretoria da SBP e atual consultor da instituição.
'Interesse da sociedade brasileira'
Um grupo de outros 25 pesquisadores brasileiros também enviou uma contestação para a Cretaceous Reserach, tipo de documento que costuma ser publicado pelas revistas científicas. Porém, com a retirada do artigo da Cretaceous Reserach, a carta ainda não foi veiculado.
"Esse tipo de carta é normal, mas geralmente discutindo questões acadêmicas. Neste caso foi diferente. Além de discutirmos alguns pontos sobre a descrição do dinossauro, fizemos questionamento éticos, que são de interesse da sociedade brasileira. O principal ponto é quanto a legalidade desse fóssil estar fora do país", disse à Sputnik Brasil a paleontólogoa Taissa Rodrigues.
A especialista ressalta ainda que o objetivo "não é impedir estrangeiros de atuarem no Brasil, mas informar pesquisadores de outros países sobre a legislação do país".
A Bacia do Araripe, localizada entre os estados do Ceará, Piauí e Pernambuco, é um dos principais sítios arqueológicos do mundo. A descrição do Ubirajara jubatus foi feita por pesquisadores britânicos, alemães e mexicanos. Segundo os autores do artigo, o dinossauro viveu há cerca de 110 milhões de anos, o que o tornaria o mais antigo já descoberto na região.
'Manuscrito será temporariamente retirado'
O editor da Cretaceous Reserach, o brasileiro Eduardo Koutsoukos, disse à Sputnik Brasil que o artigo "só foi considerado pela revista por ter atendido aos requisitos necessários para publicação, conforme as normas, ou seja, depósito formal do material estudado em uma instituição de pesquisa pública de renome, e cuja coleta e translado tenha ocorrido de forma legal, o que os autores atestaram no manuscrito pela documentação do Departamento Nacional da Produção Mineral".
Koutsoukos afirma ainda que, após ter tomado conhecido da necessidade de autorização adicional, "seguindo as normas da revista, o manuscrito será temporariamente retirado da publicação on-line e sua impressão retida, até que todas as questões legais e éticas levantadas sejam adequadamente resolvidas".
"Esperamos sinceramente que todas as questões sejam resolvidas a contento o mais rápido possível, para que o manuscrito possa então seguir finalmente para publicação", disse o editor da revista.
'Recebemos a notícia com satisfação'
O presidente da Sociedade Brasileira de Paleontologia, Renato Ghilardi, comemorou a decisão. Segundo ele, se a documentação do Ministério da Ciência e Tecnologia não for encontrada, a entidade vai pedir a retratação da revista - o que significa a retirada definitiva do artigo descrevendo o dinossauro.
"Recebemos a notícia com muita satisfação. Os editores da revista se sensibilizaram com a questão e foram ágeis em retirar o artigo, para benefício da paleontologia brasileira. Para que isso fosse atingido, a ajuda de internautas e da comunidade científica, que iniciaram campanha pelo retorno do fóssil nas redes sociais, foi importante", afirmou à Sputnik Brasil.
A possível volta do Ubirajara jubatus, porém, será mais demorada. Ghilardi disse que a SBP entrará em contato com o CNPq para comprovar a existência de autorização para saída do fóssil do Brasil. Ele acha que as probabilidades desse papel existir são pequenas.
'Repatriação é mais demorada'
Além disso, o paleontólogo contou que a entidade está em contato com o Ministério Publico de Juazeiro do Norte, que vem realizando investigações para identificar fósseis brasileiros no exterior, e já conseguiu retornar material de países como França e Alemanha.
"A repatriação é mais demorada. Um processo que pode se prolongar por mais de um ano", afirmou Renato Ghilardi.
A paleontóloga Taissa Rodrigues, por sua vez, disse que o gesto da revista foi "interessante", mas, na prática, "a gente está na mesma situação".
"Não adianta tirar um link da internet e achar que resolveu. O problema do animal não estar no brasil persiste", lamentou a pesquisadora.