O Ministério da Saúde do Japão divulgou neste domingo (10) que detectou uma nova cepa do coronavírus em quatro pessoas que estiveram no Brasil, no estado do Amazonas, e foram ao Japão no dia 2 de janeiro.
A informação foi confirmada pelo Ministério da Saúde brasileiro, que disse ter sido notificado no último sábado (9) pelo governo japonês sobre a detecção da nova cepa.
Paula Martins, doutora em microbiologia pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), afirma que, mesmo com o surgimento de uma nova cepa, "a princípio, nada muda" com relação às campanhas de combate à COVID-19 no Brasil e no mundo. A pesquisadora não vê motivos para alarde e explica que o surgimento de mutações nos vírus é algo natural.
"O aparecimento de cepas é totalmente esperado. Quanto mais o vírus se multiplica entre as pessoas, maiores são as chances de aparecer uma mutação", diz Martins.
"Para cada espécie, há várias raças, ou vários subtipos. As cepas são como subtipos de uma espécie microbiana. São pequenas diferenças em um genoma. Se tiver uma mutação, uma coisinha diferente, já dá para dizer que é uma variante nova, ou uma cepa nova", explica Martins.
Ou seja: uma variante nova não significa uma espécie nova, ou um vírus novo. Justamente por isso, Martins diz que o aparecimento de cepas, em si, não é um problema. A questão, ela explica, é o impacto em potencial que esta nova variante pode trazer, como em questões de transmissibilidade ou de gravidade dos sintomas causados pelo vírus.
Segundo o comunicado do Ministério da Saúde japonês, dos quatro viajantes provenientes do Brasil, há um homem na casa dos 40 anos que teve problemas para respirar, uma mulher na casa dos 30 que teve dores de cabeça e de garganta, um adolescente que teve febre, e uma adolescente assintomática.
"Ainda não se sabe muito sobre esta variante. Ao que tudo indica, ela tem semelhanças com a variante do Reino Unido, que parece estar associada a uma maior taxa de contágio. Mas é algo que ainda não tem como ser confirmado sobre esta nova cepa, informada pelo Japão", avalia Martins.
A microbiologista alerta ainda que, como o voo levando os passageiros contaminados para o Japão já foi realizado há mais de uma semana, é possível que esta nova cepa já tenha se disseminado, tanto no Japão como no Brasil. "Não dá pra saber o quanto ela está espalhada, mas não deve estar mais restrita só a Manaus", diz Martins.
Para ajudar a mapear a nova cepa, o Ministério da Saúde disse ter pedido ao governo japonês os dados sobre a nacionalidade dos viajantes e mais informações sobre os locais de deslocamento destas pessoas.
Quanto às vacinas, Martins acredita que as novas cepas não instigam preocupação. Ela afirma que "os médicos estão otimistas" a respeito da eficácia dos imunizantes que já estão sendo produzidos contra as novas mutações do novo coronavírus que vêm surgindo pelo mundo. A única cepa que levantou maiores questionamentos sobre possível resistência às vacinas, até agora, foi a cepa encontrada na África do Sul.
"Esta cepa [encontrada na África do Sul] tem mutações importantes na proteína S, que é a primeira parte do vírus a entrar em contato com a célula humana", explica a microbiologista.
A menos de 200 dias dos Jogos Olímpicos, o Japão anunciou a nova cepa enquanto atravessa o seu pior momento na luta contra o novo coronavírus. Na última semana, o país registrou o maior número de casos (43.525) e de mortes (421) por COVID-19 desde o início da pandemia. No total, já são 288.818 infecções e 3.850 mortes causadas pelos novo coronavírus no Japão, de acordo com dados da Universidade Johns Hopkins.