Foi realizada nesta segunda-feira (11) a One Planet Summit (Cúpula De Um Planeta), que contou com a presença de cerca de 30 chefes de Estado, empresários e representantes de ONGs para discutir a preservação da biodiversidade no mundo.
O presidente da França, Emmanuel Macron, organizador do evento, anunciou a criação de uma aliança com mais de 50 países comprometidos com o meio ambiente. O objetivo é obter de cada participante o compromisso de transformar 30% de seus territórios em áreas protegidas.
Durante a sua fala, Macron e outros líderes europeus alertaram que podem fechar seu mercado para exportadores que desmatem florestas para fabricar seus produtos. Pascal Canfin, presidente do Comitê de Meio Ambiente do Parlamento Europeu, disse que a UE pode aprovar uma lei até o meio deste ano para "colocar fim à importação de desmatamento". As informações foram publicadas pelo blog do jornalista Jamil Chade, do portal UOL.
"Macron vem cada vez dando mais importância para essa questão do desmatamento, mas obviamente não isento de interesses de proteger a produção agropecuária francesa ou europeia, que não teria condições de competir com o agronegócio brasileiro", afirmou à Sputnik Brasil.
Nesta terça-feira (12), Macron chegou a fazer uma postagem nas redes sociais alertando que "continuar dependendo da soja brasileira é endossar o desmatamento da Amazônia".
Continuar a depender da soja brasileira seria endossar o desmatamento da Amazônia. Somos consistentes com as nossas ambições ecológicas, lutamos para produzir soja na Europa!
Para a economista Nadja Heiderich, professora da Faculdade de Economia da FECAP (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado), coordenadora do Núcleo de Estudos em Conjuntura Econômica e especialista em economia ambiental, as nações europeias utilizam a retórica da proteção ambiental de uma maneira "impositiva".
"A gente percebe que esse certo isolamento do Brasil vem de países do primeiro mundo, que têm uma agenda de proteção aos seus mercados e que justificam essa proteção por meio dessas barreiras que eram antes fitossanitárias, e agora são ambientais. Eu não vejo um relacionamento desses países de primeiro mundo da Europa com o Brasil como uma conversa em termos de parceria, mas de imposição de regras", declarou à Sputnik Brasil.
Entre as personalidades presentes no evento estavam o presidente do Banco Mundial, David Malpass, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, a chanceler alemã, Angela Merkel, e o chefe de governo do Reino Unido, Boris Johnson, que organiza a próxima Conferência sobre Mudanças Climáticas de 2021 (COP 26), da Organização das Nações Unidas (ONU).
Brasil precisa sentar para negociar e deixar postura defensiva de lado
O governo brasileiro não participou da One Planet Summit. Os organizadores disseram que o convite foi feito, mas o Ministério de Relações Exteriores do Brasil disse que não recebeu.
Essa não foi a primeira vez que o governo brasileiro ficou de fora de um evento internacional para discussão das mudanças climáticas. Em dezembro do ano passado, o país não esteve presente na Cúpula da Ambição Climática 2020, evento preparatório para a COP 26.
Para Helena Margarido Moreira, a ausência do Brasil mostra que o país "precisa se voltar novamente para as questões ambientais".
"Para começar a reverter esse isolamento o Brasil precisa repensar as suas políticas ambientais. Assumir um controle e uma diminuição do desmatamento da Amazônia e em outros biomas. As imagens que repercutiram muito no ano passado das florestas em chamas, das mortes dos animais, são imagens muito ruins para o nosso país", disse.
Além do investimento em políticas de proteção ambiental, Nadja Heiderich defende que o governo brasileiro passe a divulgar dados de preservação ambiental, invista em marketing e passe a se reunir com essas nações.
"Marketing em todas as esferas, mostrando de fato quanto protegemos nossa biodiversidade, o quanto fazemos e o quanto os países ricos não fazem. Mostrar de fato dados que comprovem aquilo que a gente protege para reverter essa situação. E negociar, chamar para conversar e ter um papel da diplomacia nesse sentido", defendeu.
Já Helena Margarido Moreira também entende que fazer reuniões é fundamental e que, por isso, o Brasil deveria se preocupar em participar de cúpulas internacionais que discutam a preservação do meio ambiente.
"Para driblar esse protecionismo é [necessário] sentar à mesa e negociar. Ficar de fora dessas cúpulas ou ficar reforçando uma defesa da soberania não são atitudes que ajudam nessa negociação. Se o Brasil tem interesse em aprovar o acordo entre Mercosul e União Europeia, essa postura defensiva o tempo inteiro não é a melhor forma de fazer isso", completou.