A iniciativa foi resultado da colaboração entre o Ibrachina e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), através da Coordenação Brasil-China.
A ajuda já é reflexo de uma reunião na tarde da última sexta-feira (15) na Embaixada da China em Brasília, quando ficou acertada uma ajuda financeira imediata do país asiático para o estado do Amazonas, além do envio de equipamentos e insumos.
A ajuda em dinheiro tem como objetivo sanar necessidades imediatas do estado por oxigênio, principalmente na capital Manaus.
Auxílio chinês começou a ser traçado em reunião na semana passada
Estavam presentes na reunião com a Embaixada da China e o Comitê de Crise para o estado do Amazonas, representantes da seccional OAB-AM e o presidente do Ibrachina, Thomas Law.
O pedido de ajuda foi levado à China e uniu empresas e instituições sino-brasileiras para os esforços. A iniciativa foi batizada de "AmARzonas", em alusão às palavras "ar" e "amar", segundo publicou o Ibrachina em seu portal.
De acordo com Thomas Law, a China atendeu aos pedidos e disponibilizará ajuda financeira imediata, oxigênio, equipamento de proteção individual (EPIs) e insumos diversos. A ação será coordenada e mais insumos devem chegar a Manaus nos próximos dias. "Vamos unir forças para contribuir de maneira efetiva com as pessoas no Amazonas. A situação é crítica e faremos o possível para auxiliar o mais rápido possível", afirmou o presidente do Ibrachina, em release divulgado no site da entidade.
"Destacamos a atuação do Comitê de Crise COVID-19 do Congresso Nacional, presidido pelo deputado federal Evair de Melo e o apoio do seu coordenador estadual, Marcelo Ramos, deputado federal do Amazonas. Integra o Comitê COVID-19 a Embaixada da China e tivemos também o apoio da Força Aérea Brasileira, da IBG e da White Martins", completou o presidente do Ibrachina.
Thomas Law disse que foram articulados contatos e concentrados esforços para realizar ações humanitárias para ajudar o povo do Amazonas: "Continuamos trabalhando para que mais cargas de oxigênio sejam enviadas com agilidade e segurança. Agradeço também à equipe do Ibrachina, em especial à nossa área de Relações Institucionais. Todos estão engajados e comprometidos em prol da união e solidariedade", finalizou.
Interesses da China são puramente humanitários?
Para aprofundar o assunto, a Sputnik Brasil conversou com Marcos Cordeiro Pires, professor da UNESP e pesquisador do INCT-INEU, Instituto de Estudos dos Estados Unidos, e também do Grupo de Pesquisa dos BRICS, sobre a ajuda financeira da China para o Amazonas.
Segundo ele, em momentos de grande comoção internacional, normalmente os países oferecem solidariedade. Então olhando para a situação do Amazonas, esse é um desses momentos. "Não somente a China, mas também podemos citar a Venezuela, que se predispôs a enviar suprimentos de oxigênio para a capital do Amazonas", explicou o especialista.
"Agora é óbvio que, quando vem a ajuda, seu prestígio melhora, e creio que no caso da China não seria nem manter uma boa imagem, mas recuperá-la, pois foi muito desgastada por círculos de redes sociais vinculadas ao chamado 'gabinete do ódio' do governo, que a todo momento encontra uma maneira de fustigar a China, o Partido Comunista chinês ou o governo do país", avaliou Pires.
Como o governo federal poderia encarar a ajuda chinesa?
Segundo o especialista o governo brasileiro não é "uníssono" quando diz respeito à China: "Porque se há uma agressão gratuita por setores do Palácio do Planalto ou do Ministério das Relações Exteriores, há uma compreensão muito grande de setores ligados à economia e ao agronegócio de que não se pode desprezar a relação com a China", avaliou Pires.
Para ele, é interessante notar que a ação da China no Amazonas e a parceria do país com o governo do estado de São Paulo, do ponto de vista da vacina, é algo importante para o país asiático, porque ele consegue manter um relacionamento de alto nível com o Brasil mesmo que seja com entidades subnacionais.
"É a oportunidade que há, porque os laços do Brasil com a China e principalmente a dependência que possa existir da economia brasileira ao mercado chinês faz com que essa relação não se deixe abalar pelas perspectivas da ideologia de extrema direita de grande parte do governo Bolsonaro", declarou Pires.
Influência chinesa e pandemia
Na análise do professor, as relações entre América Latina e China se dão, do ponto de vista comercial e econômico, em um ambiente de dependência mútua, pois a China tem necessidade de alimentos e matérias-primas e a América Latina precisa do enorme mercado chinês.
"Não há do ponto de vista chinês nenhuma discussão particular em aumentar a influência do país asiático na América Latina nesse momento. A China tem uma pauta bastante clara que deixou registrada em seu Livro Branco de relações com a América Latina. Talvez a prioridade diplomática da China não seja a CoronaVac, não seja a pandemia e sim a estruturação de memorandos de entendimento em torno da chamada Nova Rota da Seda", avaliou o especialista.
Segundo Pires, se a pandemia, de início, prejudicou a imagem da China — pois foi de lá que o vírus se espalhou para o mundo — agora mostra o outro lado da moeda, pois é da nação asiática que vem grande parte dos insumos para o tratamento da doença e inclusive uma das principais vacinas que estão sendo utilizadas em vários países, inclusive no Brasil.