Na semana passada, Kim Jong-un se mostrou confiante em mais um desfile militar em Pyongyang, demonstrador de todo o poderio militar norte-coreano. Agora, parece que o líder Kim está planejando uma surpresa para o novo presidente norte-americano, escreve o jornal The Washington Post.
No desfile teria sido exibido um novo míssil balístico projetado para ser lançado de um submarino, descrito, com entusiasmo, pela mídia estatal norte-coreana como "a arma mais poderosa do mundo".
Imagens de satélite recentes de uma base naval na cidade portuária de Nampo, na costa oeste do país, sugerem que os preparativos podem estar em andamento para o teste de lançamento de míssil semelhante. Embora não sejam conclusivas, as evidências se enquadram no padrão da postura cada vez mais agressiva por parte do líder da Coreia do Norte.
Em discurso no Congresso do partido governante neste mês, Kim Jong-un declarou que "fortaleceria incansavelmente" as forças armadas norte-coreanas, expandiria seu arsenal nuclear, e desenvolveria novos mísseis de ponta nucleares capazes de atingir Washington, chamando os EUA de "maiores inimigos da Coreia do Norte", segundo a agência Reuters.
Qualquer teste de míssil de tamanho alcance seria um golpe significativo para a futura administração Biden, por violar as resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas, mas não desrespeitando a moratória imposta da Coreia do Norte sobre mísseis balísticos intercontinentais (ICBM, na sigla em inglês) e testes de armas nucleares.
Duyeon Kim, do Centro para uma Nova Segurança Americana, disse ao The Washington Post que a Coreia do Norte tem sempre um imperativo militar de testar suas armas e aperfeiçoar sua tecnologia. No entanto, Kim previu que o momento de qualquer teste seria politicamente dirigido, podendo tanto ser em reação aos exercícios militares conjuntos entre EUA e Coreia do Sul, ou às críticas norte-americanas ao histórico de direitos humanos da Coreia do Norte.
No entanto, já há indícios de que a Coreia do Norte está longe de estar feliz, segundo Andrei Lankov, professor na Universidade de Kookin em Seul, na Coreia do Sul. Pyongyang teme que Biden não dê ao governo de Kim Jong-un o que ele quer e, adicionalmente, não esteja particularmente interessado em negociações, disse o professor, de acordo com o texto.
Em sua campanha presidencial, Biden chamou Kim de "bandido", e Lankov supõe que o novo presidente dos EUA poderia retornar à doutrina de "paciência estratégica" adotada pelo governo Obama, embora que sem sucesso.
Kim prometeu neste mês desenvolver mísseis ICBM de combustível sólido que podem ser lançados da terra e do mar, e Jeffrey Lewis e David Schmerler, especialistas em armamento do Centro James Martin de Estudos de Não Proliferação, afirmaram que há uma variedade de evidências sugerindo que esse processo esteja em andamento.
"Enquanto Trump deixa o cargo, a Coreia do Norte vem tomando medidas para abandonar a moratória que Kim [Jong-un] renunciou no ano passado. [...] O governo de Biden está herdando uma Coreia do Norte que está se movendo para retomar os testes de voo de mísseis de alcance intermediário e intercontinental", escreveram Lewis e Schmerler no blog Arms Control Wonk, citado pelo The Washington Post.
Independentemente do que o líder norte-coreano decida fazer, este está enviando uma mensagem clara para Biden, segundo os especialistas. Ele nunca abandonará suas armas nucleares, e se os EUA quiserem conversar sobre algum tipo de congelamento ou redução no arsenal de Pyongyang, Kim Jong-un exigirá um preço muito alto.