O político democrata tomou posse nesta quarta-feira (20) como presidente dos Estados Unidos e cumpriu logo de cara uma de suas primeiras promessas, a de retomar a agenda ambiental de governo, recolocando os EUA no Acordo do Clima de Paris.
Após prestar juramento nesta tarde, fui direto ao trabalho para tomar as seguintes ações: controlar a pandemia, prover auxílio econômico, enfrentar as mudanças climáticas e avançar em equidade racial.
Como se sabe, o antecessor de Joe Biden, Donald Trump, retirou os Estados Unidos do acordo em maio de 2018. Na ocasião, Trump também cumpria uma promessa, anunciada em 1º de junho de 2017, após sua eleição em novembro de 2016, e a medida passou a vigorar efetivamente em novembro de 2019.
Agora, com o retorno de Washington ao principal acordo internacional de combate às mudanças climáticas, aumenta a percepção de que o governo de Joe Biden elevará a pressão sobre o presidente Jair Bolsonaro no que tange a política ambiental do governo brasileiro.
Mudanças na política ambiental
Em entrevista à Sputnik Brasil, o especialista Paulo Velasco, coordenador do curso de pós-graduação em Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), assinalou que não há dúvidas de que a política ambiental de Biden será completamente diferente da de seu antecessor.
Velasco assinala que, antes mesmo de assumir o cargo, Biden já havia indicado mudanças na política ambiental ao apontar os integrantes de sua equipe de governo, formada por nomes com experiência no assunto, já que parte dela integrou a administração de Barack Obama e participou ativamente das negociações do Acordo do Clima.
"Certamente, haverá um esforço em avançar em mudanças bastante significativas em relação ao governo Trump para voltar a colocar os EUA na linha correta em termos de redução das emissões de gases do efeito estufa e fazer com que o país contribua de alguma maneira para atenuar o problema do aquecimento global", afirma Velasco.
O especialista, no entanto, ressalta que Biden terá dificuldades para implementar essa agenda, pois seu governo conta com uma estreita maioria na Câmara dos Representantes e uma maioria mínima no Senado, "o que pode dificultar um pouco na hora de levar adiante algumas mudanças mais robustas".
Consequências para as relações comerciais
Além da questão ambiental, Velasco acredita que essa mudança na política americana indica que o país voltará a jogar duro com seus parceiros mundo afora, principalmente no que tange a questão comercial.
Segundo o especialista, isso poderá trazer prejuízos econômicos ao Brasil, pois o país certamente terá "maior dificuldade para avançar em negócios nos EUA, em fechar acertos em entendimentos comerciais com os EUA ou com empresas americanas".
"É sabido que o Partido Democrata tem um viés mais tradicionalmente protecionista [...] e, não raro, isso significa incluir cláusulas que permitem a aplicação de restrições comerciais, como por exemplo a cláusula ambiental, que daria a possibilidade de os EUA restringirem o comércio com parceiros que não respeitem o meio ambiente", comenta.
Reflexos no governo Bolsonaro
Para reverter essa situação, o coordenador do curso de pós-graduação em Relações Internacionais da UERJ acredita que o governo brasileiro deverá promover ajustes em sua orientação internacional relativa a agendas que muito interessam ao governo Joe Biden, como a questão ambiental, e que esses ajustes podem, inclusive, incluir trocas em ministérios-chave, como o de Relações Exteriores, comandado por Ernesto Araújo, e do Meio Ambiente, cujo responsável é Ricardo Salles.
"Embora tenhamos visto declarações recentes de que o Brasil não mudará a sua orientação internacional por conta da posse de Biden, é muito provável que aconteçam ajustes, talvez sem tanto alarde. O Brasil evidentemente sabe os efeitos da posse do Biden, o Brasil conhece muito bem o perfil do novo presidente dos EUA e, acima de tudo, reconhece a importância da parceria com os EUA. Então, obviamente, não seria razoável sacrificar uma boa relação e uma boa parceria por conta de uma mesquinhez político-ideológica", avalia.
Apesar de Velasco acreditar que as mudanças no comando desses ministérios sejam o caminho mais seguro para o país, ele não apostaria suas fichas nessa troca, dado o perfil errático de Bolsonaro, mas ressalta que, mesmo com a manutenção de Salles e Araújo, os ajustes nas políticas brasileiras se farão necessários em nome do interesse nacional, pois, "se o Brasil continuar como está, terá problemas sérios na relação com os EUA", conclui.