Nesta segunda-feira (8), o presidente Jair Bolsonaro admitiu que o governo poderia prorrogar o benefício. Desde o fim do pagamento do auxílio, em dezembro do ano passado (alguns beneficiários ainda receberam última parcela em janeiro de 2021), o chefe de Estado vinha afirmando que não seria possível estender a concessão da bolsa.
Para a economista Leila Pellegrino, o benefício desempenhou um importante papel na economia brasileira em 2020. Sem ele, as consequências da pandemia seriam ainda "mais graves", disse a especialista.
Pellegrino afirma ainda que "a retomada do auxílio emergencial nesse momento, de alguma forma representa uma dificuldade da atividade econômica se recompor, nesses tempos em que a pandemia ainda implica uma ameaça".
Em evento realizado no Palácio do Planalto, Bolsonaro informou que está conversando com sua equipe de ministros para avaliar a continuidade do benefício. O presidente, no entanto, não falou de valores e mencionou que o governo está no limite do endividamento.
Segundo Leila Pellegrino, a "estrutura fiscal brasileira" já se encontrava "bastante fragilizada antes da pandemia" e deve ser levada em conta, mas, nesse momento, é importante prorrogar o auxílio temporariamente.
"A gente tem uma parcela importante da população, que além de estar desprovida de apoio nesse momento, precisa desses recursos. A gente tem consequências importantes disso sobre a atividade econômica nacional", disse a coordenadora do curso de Economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie em Campinas (SP). "É importante que a gente recomponha, ou minimamente defenda, a renda de alguns segmentos da sociedade que não tem como se defender nesse momento", acrescentou.
Campanha pede prorrogação do auxílio
Para pressionar a retomada do benefício, ativistas da Rede Brasileira de Renda Básica e de outras organizações da sociedade civil foram a Brasília para uma rodada de encontros com autoridades governamentais e parlamentares. O objetivo é entregar nesta quarta-feira (10) uma petição pela prorrogação do auxílio para a nova presidência da Câmara dos Deputados.
A campanha Auxílio Emergencial Até o Fim da Pandemia reúne mais de 250 associações e defende uma bolsa de R$ 600, mesmo valor concedido nos cinco primeiros meses do benefício, que depois foi reduzido para R$ 300.
"Não conseguimos completar 2020 no patamar que a gente queria. A pandemia está a pleno vapor, mais de 1.000 mortos por dia, as pessoas não conseguiram retomar uma atividade econômica e a pobreza extrema, desde a redução para R$ 300, se mostrou muito potente no Brasil. É preciso dar proteção social às pessoas enquanto a população não estiver imunizada", disse à Sputnik Brasil Paola Carvalho, diretora de relações institucionais e internacionais da Rede Brasileira de Renda Básica.
Valor seria de R$ 200
Embora o governo não tenha anunciado o valor e como a prorrogação do auxílio seria feita, especula-se que a quantia deve cair para R$ 200 e menos pessoas sejam beneficiadas.
Uma das propostas ventiladas é de que para receber o auxílio o cidadão será obrigado a participar de um curso de qualificação profissional. A ideia do governo é associar a bolsa ao programa Carteira Verde e Amarela, que deve ser relançado pelo Executivo com objetivo de flexibilizar as leis trabalhistas, o que, na visão da equipe econômica, aumentaria a oferta de empregos formais.
Proposta 'perversa'
Para Paola Carvalho, a proposta do governo é "perversa". Ela ressalta ainda que o valor pago é por família, não por pessoa, o que diminuiu a renda per capita da bolsa. Segundo ela, "atualmente os R$ 300 não cobrem nem 30% do valor da cesta básica".
"A proposta do governo não atende sequer os beneficiários do Bolsa Família, que são famílias extremamente pobres. Além disso, condiciona o pagamento a realização de um curso de qualificação profissional. A renda básica costuma ser condicionada às pessoas fazerem determinadas coisas para receber, mas o auxílio vem exatamente em um momento em que as pessoas não devem se aglomerar. Mesmo que o governo subsidie o curso, tem passagem, alimentação, tem deslocamento, tem aglomeração. Onde entra o emergencial em uma proposta dessa?", questionou.