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Sem protecionismo da UE, professor vê grande potencial de negócios entre Brasil e Reino Unido

A recente aproximação entre Brasil e Reino Unido no setor agropecuário pode ser consolidada com a assinatura de acordos muito benéficos para os dois países, acredita o professor Marcos Fava Neves, da USP e da FGV.
Sputnik

Os governos brasileiro e britânico assinaram nesta semana o Memorando de Entendimento de criação do Comitê Conjunto de Agricultura (CCA) Brasil-Reino Unido, através do qual os dois países se comprometem a desenvolver esforços para garantir a continuidade de consultas bilaterais sobre questões relacionadas ao comércio de bens agropecuários e de estabelecer um fórum de debates relativos aos interesses de ambos os países na área, inclusive potenciais arranjos comerciais para o futuro.

Segundo as autoridades brasileiras, o comitê abarca ainda regulamentações e certificações técnicas pertinentes às matérias agrícolas, medidas de segurança alimentar e segurança de alimentos, sustentabilidade de produção agropecuária, pesquisa e inovação na área de agricultura e abastecimento e normas sanitárias e fitossanitárias internacionais.

De 2019 para 2020, as exportações do agronegócio brasileiro para o Reino Unido tiveram um aumento de 5%, passando de US$ 1,031 bilhão (R$ 5,54 bilhões) para US$ 1,087 bilhão (R$ 5,84 bilhões), com soja, aves e frutas respondendo pela maior parte. Já as importações do agro britânico pelo Brasil no ano passado somaram US$ 107,8 milhões (R$ 578,89 milhões), referentes principalmente a produtos como uísque e gim. 

​Para o engenheiro agrônomo Marcos Fava Neves, professor da Universidade de São Paulo (USP) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV), esse entendimento entre Brasília e Londres na área agrícola "é uma excelente notícia tanto para os consumidores do Reino como também para os consumidores do Brasil", pois, em um processo de ampliação de trocas internacionais "quem se beneficia é a sociedade como um todo". 

"Você tem algumas empresas prejudicadas, porque vão enfrentar uma concorrência. Mas, no geral, é benéfico, aumenta o fluxo de negócios, você cria oportunidades para as pessoas", afirma em entrevista à Sputnik Brasil.

Com o Reino Unido fora da União Europeia, Neves acredita que ficará mais fácil e mais ágil a construção de parcerias comerciais entre Londres e Brasília, uma vez que na UE, e mais especificamente em alguns Estados-membros do bloco, como na França, existe um protecionismo muito marcante. Isso se reflete, segundo ele, na dificuldade de colocar em prática o aguardado acordo do Mercosul com os europeus, em que pese as reivindicações ambientais desses países.

"O Reino Unido fora tem mais liberdade, até porque ele é menos protecionista do que a União Europeia para estabelecer esses acordos aqui com o Brasil."

Ao estabelecer esses laços diretamente com o Brasil, o especialista acredita que isso deve acabar facilitando um movimento semelhante de aproximação com outros parceiros sul-americanos, como Uruguai, Paraguai e Argentina, sobretudo em um momento no qual se discute a possibilidade de flexibilização do Mercado Comum do Sul. 

​De outro lado, o professor aponta que essa tentativa de aproximação com o Reino Unido deve ser acompanhada de aproximações também com outros mercados. 

"Qualquer relação internacional agromercantil é importante para o Brasil. Essa recentíssima aproximação com os Estados Unidos e a nova gestão é importante, é importante a aproximação com a Ásia, é importante a aproximação com Índia, com países africanos e com o Reino Unido também." 

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