O primeiro satélite 100% brasileiro, o Amazônia 1, foi lançado na madrugada do último domingo (28) na Índia. Trata-se do primeiro satélite de observação da Terra projetado, testado e operado totalmente pelo Brasil.
Lançado na missão PSLV-C51, da agência espacial indiana, a Indian Space Research Organisation (ISRO), o projeto do satélite brasileiro teve um investimento de R$ 380 milhões e levou 13 anos para ser colocado em execução.
Em entrevista à Sputnik Brasil, o presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), Carlos Moura, destacou que o fato de que o Brasil agora tem um satélite próprio com sensoriamento remoto ótico significa que o país terá mais acesso a informações sobre todo o seu território, seus mares e suas fronteiras.
Além disso, ele lembrou que o satélite Amazônia 1 se somará às informações que vêm dos outros dois satélites, CBERS-4 e CBERS-4A, que já estão em órbita. Os três satélites atuarão para o sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter).
"Com uma constelação, a gente aumenta a capacidade de ter informação atualizada de um determinado ponto e diminui o risco de você às vezes passar e a área estar encoberta por nuvens e aquela informação ser perdida. Então com três satélites aumenta-se a chance de sempre conseguir enxergar o solo", observou.
O presidente da AEB disse também que as informações do satélite Amazônia 1 servirão para aplicações de agricultura, monitoramento de grandes áreas sujeitas a riscos ambientais, planejamento urbano e monitoramento de nossos mares.
Ao comentar a situação atual do Programa Espacial Brasileiro e as suas próximas metas, o presidente da AEB destacou que o atual Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE) completa dez anos em 2021 e, com isso, já foram iniciados os trabalhos de revisão para o próximo período decenal.
"Isso envolve uma atualização muito grande, porque o ambiente lá fora está mudando, o mercado espacial está mudando e as possibilidades tecnológicas também", afirmou.
Enviado para ser lançado na Índia em dezembro de 2020, o satélite Amazônia 1, que tem um peso de 650 kg e ficará a mais de 700 km de altitude, gerará imagens do planeta Terra a cada cinco dias.
De acordo com Carlos Moura, o satélite Amazônia 1 significa "um avanço nas rota tecnológicas, no amadurecimento da tecnologia desenvolvida nos nossos institutos".
"No conjunto da obra, aumenta a soberania do país. Você ter o seu instrumento próprio sob seu controle para observar da forma que você quiser, a hora que você quiser, os alvos de interesse no solo. Isso é muito importante para todos os países, em especial, em países com o território muito grande como o nosso, que tem áreas remotas difíceis de serem controladas e monitoradas com a presença humana no solo", completou o presidente da AEB.
Participação da iniciativa privada
Ao comentar a questão do financiamento no Programa Espacial Brasileiro, Carlos Moura observou que sempre houve uma carência "não só pela quantidade de recursos investidos, mas também pela inconstância da forma pela qual ele [financiamento] era entregue às unidades executoras". "Essa não-linearidade do fluxo do investimento prejudica projetos, planejamentos e a própria manutenção da infraestrutura", destacou.
Por outro lado, o presidente da AEB, declarou que uma característica que tem marcado muito os programas espaciais no mundo todo é o aumento substancial da participação da iniciativa privada.
"Nós percebemos agora aqui na Índia essa abertura do programa espacial indiano justamente para permitir que a iniciativa privada aproveite esse momento de crescimento contínuo e expressivo do mercado espacial", disse.
Segundo Moura, é muito importante que o empresariado perceba que existe a oportunidade de mercado, seja no país, que é um grande demandante de aplicações espaciais, seja no mercado exterior.