Cientistas descobrem que neandertais tinham capacidade de perceber e produzir a fala (FOTO)

Estudo de universidade nova-iorquina demonstra através de imagens 3D a capacidade auditiva dos neandertais, o que provavelmente comprova o início da evolução da comunicação verbal humana.
Sputnik

Os neandertais, ancestrais mais próximos dos humanos modernos, possuíam a capacidade de perceber e produzir a fala humana, de acordo com um novo estudo publicado na Nature Ecology and Evolution, por uma equipe multidisciplinar internacional de pesquisadores.

Os estudiosos, incluindo Rolf Quam, professor de Antropologia da Universidade de Binghamton, em Nova York, e o estudante Alex Velez, descrevem a importância dos dados obtidos. "Esta é uma das poucas linhas de pesquisa atuais que se baseiam em evidências fósseis para estudar a evolução da linguagem, um assunto notoriamente complicado na antropologia", explicou Quam ao Science Daily.

A evolução da linguagem e as capacidades linguísticas dos neandertais em particular são uma grande incógnita para os pesquisadores. "Por décadas, uma das questões centrais nos estudos da evolução humana tem sido se a forma de comunicação, a linguagem falada, também estava presente em qualquer outra espécie de ancestral humano, especialmente os neandertais", disse o coautor Juan Luis Arsuaga, professor de Paleontologia da Universidade Complutense de Madri e codiretor de escavações e pesquisas dos sítios arqueológicos de Atapuerca, no norte da Espanha.

O estudo se baseou em entender melhor como os neandertais ouviam, e análises foram feitas a partir de tomografias computadorizadas de alta resolução para criar modelos virtuais em 3D das estruturas da orelha em Homo sapiens e neandertais, bem como fósseis anteriores do sítio de Atapuerca que representam os ancestrais dos neandertais.

Cientistas descobrem que neandertais tinham capacidade de perceber e produzir a fala (FOTO)

Os dados coletados nos modelos 3D foram inseridos em um software, desenvolvido na área de bioengenharia auditiva. Assim, foi possível estimar as habilidades auditivas dos neandertais entre quatro e cinco quilohertzes, se assemelhando mais aos humanos modernos, cuja faixa de frequência dos sons abrange até cinco quilohertzes.

Além disso, os pesquisadores conseguiram calcular a faixa de frequência de sensibilidade máxima, tecnicamente conhecida como largura de banda ocupada, que está relacionada ao sistema de comunicação. Quanto maior a largura de banda, melhor a capacidade de entregar uma mensagem clara no menor tempo possível. Os neandertais mostram uma largura de banda maior em comparação com seus ancestrais de Atapuerca, mais parecidos com os humanos modernos nesta característica.

"Esta é realmente a chave", disse Mercedes Conde-Valverde, professora da Universidade de Alcalá na Espanha e principal autora do estudo. "A presença de habilidades auditivas semelhantes, particularmente a largura de banda, demonstra que os neandertais possuíam um sistema de comunicação tão complexo e eficiente quanto a fala humana moderna."

Assim, os neandertais tinham uma capacidade semelhante à nossa de produzir os sons da fala humana, e seus ouvidos eram "sintonizados" para perceber essas frequências. Essa mudança nas capacidades auditivas dos neandertais, em comparação com seus ancestrais de Atapuerca, é paralela às evidências arqueológicas de padrões de comportamento cada vez mais complexos, incluindo mudanças na tecnologia das ferramentas de pedra, domesticação do fogo e possíveis práticas simbólicas.

Nessa linha, o estudo fornece fortes evidências a favor da coevolução de comportamentos cada vez mais complexos e do aumento da eficiência da comunicação vocal ao longo da evolução humana.

A equipe por trás do novo estudo tem desenvolvido esta linha de pesquisa por quase duas décadas e tem colaborações contínuas para estender as análises a outras espécies fósseis. Por enquanto, porém, os novos resultados são empolgantes.

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