As mudanças climáticas das últimas décadas, o esgotamento de recursos naturais e as previsões catastróficas para o futuro do planeta têm feito diversos países investirem em fontes de energia renováveis. Privilegiado pela extensão territorial e pelo clima, o Brasil largou bem nessa corrida que alia negócios à sustentabilidade.
O relatório mais recente sobre produção e consumo de energia mundial da British Petroleum (BP), de 2019, coloca o Brasil como o segundo colocado no ranking de maiores produtores de biocombustíveis.
A multinacional sediada no Reino Unido apontou que o país produziu o equivalente a 444 mil barris por dia naquele ano, só atrás dos Estados Unidos, com 697 mil.
A diferença é que, entre 2014 e 2019, o Brasil teve um crescimento mais acelerado que os EUA: 31,8% contra 13%. E só de 2018 a 2019, o país sul-americano acelerou a produção em 7,6%, enquanto os norte-americanos perderam 2,7% do volume total.
Em entrevista à Sputnik Brasil, Julio Cesar Minelli, diretor-superintendente da Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (Aprobio), afirmou que a produção de biodiesel, especificamente, enfrentou um período de turbulência relacionada à oferta de matéria-prima com a pandemia de COVID-19. Mesmo assim, o Brasil se mantém como um dos principais produtores e consumidores de biodiesel do mundo.
"As aquisições de biodiesel pelas distribuidoras no Brasil terminaram 2020 com um total de 6,4 bilhões de litros, alta de 9,3% em relação a 2019 e nível recorde para um ano, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis [ANP]", ressaltou Minelli.
Ele lembra que o país também expandiu a sua capacidade produtiva, o que pavimentou as bases para o início da mistura obrigatória mínima de 13% de biodiesel no diesel mineral, cumprindo o cronograma do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE).
A taxa subiu de 12% para 13% na última segunda-feira (1º). A partir de março de 2023, o mínimo estabelecido será de 15%.
RenovaBio também incentiva setor
Além disso, há ainda a Política Nacional de Biocombustíveis, conhecida como RenovaBio, um programa criado pelo Ministério de Minas e Energia que tem o objetivo de expandir a produção de biocombustíveis, estabelecendo metas e exigências ao longo dos anos.
O crescente investimento do país em biocombustíveis contribui para metas climáticas estabelecidas no Acordo de Paris, compromisso firmado entre 195 países, em 2016, para a redução da emissão de gases do efeito estufa.
"A expectativa para 2021 é manter o caminho virtuoso do programa [RenovaBio]. Apesar da revisão da meta de aquisição dos CBIOs [créditos de descarbonização] para baixo, foram gerados mais de 18 milhões de CBIOs. Do total, 14,54 milhões, que correspondem a 97,6% da meta, foram de partes com obrigações frente ao RenovaBio", disse o diretor-superintendente da Aprobio.
As fontes de energia renováveis são os recursos naturais considerados inesgotáveis. Encaixam-se nesse modelo, por exemplo, a energia hidráulica (obtida de fluxos de água de rios e lagos), a eólica (a partir da força do vento), a solar (gerada diretamente da luz do sol) e os biocombustíveis.
Os biocombustíveis são líquidos e gerados em processo industriais a partir da biomassa, obtida pela queima de materiais orgânicos de origem vegetal ou animal. Entre as fontes de biomassa mais usadas estão derivados de madeira, cana de açúcar, restos de alimentos e casca de arroz.
"O fortalecimento do RenovaBio e a consolidação do modelo de previsibilidade, bem como a continuidade do aumento da mistura obrigatória mínima prevista na Lei do Biodiesel, são requisitos importantes para o setor, que saberá responder com os investimentos necessários para o atendimento da demanda, como já tem feito até aqui desde quando o biodiesel começou a se tornar realidade no Brasil em 2008, com a adoção da mistura obrigatória de 2%", afirmou Minelli.
Apesar de renovável, a energia de biocombustíveis pode ter um tempo de geração e recuperação dos campos de cultivo inferior ao de consumo, diferentemente da hidráulica, da eólica e da solar.
A energia obtida de hidrelétricas, apesar de ser renovável e não emitir poluentes, não está isenta de impactos ambientais e sociais.
No ranking mundial de fonte solar fotovoltaica, o Brasil, atualmente, é o 16º colocado, segundo dados da Agência Internacional para as Energias Renováveis (IRENA). O país terminou o ano de 2019 com 4.533 MW (Megawatts) de capacidade instalada.
A China lidera de forma isolada esta lista, com 205.072 MW. Na sequência, aparecem Japão (61.840 MW), Estados Unidos (60.540 MW) e Alemanha (49.016 MW). Em 2017, o Brasil ocupava a 27ª posição.
Startup investe em energia solar
O crescimento do país se deve muito ao investimento de pequenas empresas e startups neste segmento. A CleanClic, por exemplo, é uma plataforma que conecta os consumidores a usinas de energia renovável, através de consórcios ou cooperativas.
A startup realiza parcerias com usinas de energia renovável e encontra os clientes interessados no serviço, aquecendo tanto a oferta como a demanda. O último projeto anunciado pela empresa é de um aporte de R$ 110 milhões para a construção de 15 usinas fotovoltaicas no norte do estado de Minas Gerais.
"Percebemos que era preciso ter alguém que ligasse as pontas, o usuário final e a indústria, a usina, que gera a energia", disse Alvaro Diaz Marques, gestor-executivo da CleanClic, em entrevista à Sputnik Brasil.
Ele explica que o estado é o que tem a legislação mais favorável e atraente para esse tipo de investimento. "Minas é esse celeiro de projetos. Por isso, é o estado que mais tem usinas hoje em dia", afirmou.
A CleanClic também atua no Espírito Santo, seu estado de origem, onde foi fundada em 2018. Segundo Marques, a startup já tem negociações com outros estados das regiões Sul, Norte e Centro-Oeste, mas ainda não pode revelar quais especificamente são os mais interessados. "Isso vai para o Brasil inteiro, porque é um modelo replicável em todos os estados", garantiu.
Marques acredita que as discussões sobre o tema no Congresso Nacional estão avançadas e que, em breve, diversos projetos deverão ser beneficiados no país.
"Acho que toda tecnologia nova precisa de incentivo no início. Alguns estados têm mais apoio e outros menos. Provavelmente, aqueles que deram mais apoio vão sair na frente. Com isso, conseguem ter uma matriz mais limpa. Tem um apelo do meio ambiente muito importante", afirmou.