Isolamento e vacina são receitas para a recuperação econômica do Brasil, diz especialista

Plena recuperação econômica do país depende de quão sério tratarmos as medidas de isolamento para conter a pandemia da COVID-19 e a vacinação, disse à Sputnik Brasil o pesquisador da FGV Claudio Considera.
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Segundo estudo divulgado na quinta-feira (4) pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), o Brasil conseguiu recuperar grande parte da perda do Produto Interno Bruto causada pela pandemia do coronavírus. 

De acordo com o levantamento, no final de 2020, o país já tinha recomposto 89,1% do PIB em relação ao segundo trimestre, quando a economia caiu 9,7%. A queda total do Produto Interno Bruto no ano passado foi de 4,1%.

No entanto, não há motivos para comemorar. O estudo aponta que a retomada do fôlego da economia ocorrida nos três últimos meses de 2020 não deve acelerar nos próximos trimestres. A explicação é a persistência da pandemia e a alta de casos e mortes pela COVID-19, o que prejudicará a atividade econômica e fará o caminho de saída da crise mais árduo. 

Para Claudio Considera, a "pandemia é certamente o nosso maior problema". Para superá-lo, o pesquisador da FGV diz que é preciso gerir com mais eficiência a saúde no Brasil e acelerar a vacinação.

"Ou você vacina a maior parte da população, cuida para que as pessoas sigam as normas estabelecidas, como o isolamento social, ou nós vamos ter uma piora muito grande", disse o especialista. "Cada pessoa que morre é um conhecimento que vai embora, é um trabalhador que vai embora, que poderia continuar contribuindo para nosso país", acrescentou. 

Impacto do isolamento

Em sua opinião, países que adotaram medidas de contenção da pandemia e vacinação eficazes "estão podendo voltar a funcionar normalmente". 

Considera afirma que, em abril de 2020, a economia brasileira "desligou" e "produziu menos do que poderia".

"A partir do mês de maio, começa a ter uma recuperação, com a retomada das compras das famílias e alguns investimentos", explicou. 

O especialista diz que a pandemia traz problemas "diretos" e "indiretos" para a economia, e admite o impacto causado pelas restrições de circulação e comércio. 

"Os diretos são associados à restrição de consumo, principalmente de serviços, que representam 50% do consumo da família brasileira. Eles foram totalmente paralisados pela pandemia, porque eles exigem o convívio social. Toda a parte de turismo, bares, hotéis, o próprio transporte, comércio, tudo isso impacta a economia diretamente", argumentou. 

Já os indiretos "estão associados aos empregos que se perdem com a não produção de serviços nessas áreas, pessoas que são demitidas, isso vai ocorrer em toda a economia". 

Oposição saúde x economia

Desde o início da pandemia, o presidente Jair Bolsonaro vem fazendo uma oposição entre a economia e as medidas preventivas recomendadas por especialistas e a Organização Mundial da Saúde (OMS). Para ele, a população deve continuar a trabalhar e o isolamento só deve ser aplicado para os grupos de risco para a COVID-19. 

Nesta quinta-feira (4), um dia após o Brasil registrar recorde de mortes pelo coronavírus, Bolsonaro disse que o povo queria trabalhar e era preciso "repensar" as medidas de isolamento. 

"Nós temos que enfrentar nossos problemas. Chega de frescura, de mimimi. Vão ficar chorando até quando? Temos que enfrentar os problemas. Respeitar, obviamente, os mais idosos, aqueles que têm doenças, comorbidades. Mas onde vai parar o Brasil se só pararmos?", afirmou o presidente. 

'Souberam fazer isolamento'

Para o economista da FGV, no entanto, é justamente para que um país possa se recuperar mais rápido que as políticas para conter a disseminação do vírus devem ser aplicadas. 

"O Brasil perde competitividade para todos os países que cuidaram da pandemia de forma eficaz, souberam fazer isolamento, souberam antecipar a compra de vacinas. Todo mundo estava vendo isso. No Brasil, só o governador de São Paulo [João Doria] pensou nisso de forma antecipada, fez um acordo com a produtora da CoronaVac, e está suprindo, inclusive, o próprio país. Isso é um problema para a gente em termos de competitividade, em termos de capacidade de garantir à nossa população os meios ideais para continuar sobrevivendo", disse Claudio Considera.
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