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Bolsonaro é o melhor adversário para Lula, mas 'recíproca não é verdadeira', diz cientista político

O ministro do STF, Edson Fachin, decidiu na última segunda-feira (8) anular as condenações envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Com a decisão, Lula recupera os seus direitos políticos e pode concorrer às eleições.
Sputnik

Na decisão, Fachin também indica prejuízo do julgamento de uma possível suspeição de Moro na Lava Jato.

O cientista político e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie em São Paulo, Rodrigo Prando, em entrevista à Sputnik Brasil, afirmou que a certeza que podemos ter neste momento é que "esta decisão do ministro Fachin muda a correlação de forças" do cenário político brasileiro.

"As peças estão todas agora em movimento. O que era certo, pelo menos o que era o cenário mais provável para 2022, com a presença do ex-presidente Lula o cenário muda substancialmente", afirmou o especialista.

Ao comentar um possível embate eleitoral entre Lula e Bolsonaro, Prando observou que a polarização na política brasileira acontece há um bom tempo, destacando que "os petistas foram responsáveis pela polarização quando dividiram o Brasil em 'nós e eles'".

Segundo o analista, é consenso em uma parte substancial dos analistas políticos que os discursos polarizados de personalidades como Lula e Bolsonaro se retroalimentam.

"Quanto mais ganha ascensão um dos candidatos, seja Lula ou Bolsonaro, ou outro, consequentemente também ganha a visibilidade no espectro político invertido", acrescentou.

O cientista político destacou que, sob o ponto de vista do presidente Jair Bolsonaro, é preferível enfrentar um candidato do PT, porque isso manteria a base bolsonarista "bastante coesa" e conseguiria trazer voto daqueles que não são bolsonaristas, mas também teriam uma alta rejeição ao PT e à esquerda. Prando ressaltou, no entanto, que a presença de Lula muda este cenário.  

Bolsonaro é o melhor adversário para Lula, mas 'recíproca não é verdadeira', diz cientista político

De acordo com ele, seria melhor para Bolsonaro enfrentar Fernando Haddad, pois "Lula tem muito mais traquejo político, muito mais carisma, e tem muito mais uma oratória preparada para o confronto do que Fernando Haddad".

O especialista acrescentou que "Lula tem inteligência política para modular o seu discurso de acordo com a situação", então sua "capacidade discursiva e seu carisma seriam muito prejudiciais às pretensões do Bolsonaro".

Para Rodrigo Prando, o presidente Jair Bolsonaro é, portanto, o "melhor" adversário para o Lula, mas frisou que a "recíproca não é verdadeira", pois, para Bolsonaro, seria preferível enfrentar outro candidato da esquerda.

Ciro Gomes e João Doria no novo xadrez político

Já em relação a outros prováveis candidatos nas eleições presidenciais de 2022, como Ciro Gomes (PDT) e João Doria (PSDB), Rodrigo Prando observou que o pedetista buscaria uma posição dentro da esquerda acenando para o centro e criando uma distância distante do PT.

"[Ciro Gomes] buscaria se consolidar como o nome de centro-esquerda. Com a presença do Lula, a correlação de forças muda, porque o Lula consegue atrair muito mais partidos de esquerda e apoios do que o próprio Ciro Gomes", argumentou.

O governador de São Paulo, João Doria, por sua vez, afirmou que, apesar do potencial de votos do atual presidente Jair Bolsonaro e de Lula, outros candidatos continuarão com chances de se eleger se "tiverem juízo. Para ele, a polarização entre Lula e Bolsonaro "favorece os extremistas que destroem o país".

De acordo com o especialista Rodrigo Prando, o peso político de ser o governador de São Paulo coloca Doria como um forte presidenciável. Para o cientista político, a liderança de Doria no processo de vacinação com o imunizante CoronaVac contra a COVID-19 também lhe garante um capital político significativo, mas a polarização entre Lula e Bolsonaro prejudica seus planos.

"Sem dúvida nenhuma, a presença do ex-presidente Lula como candidato prejudica muito a ideia e o projeto político de João Doria, porque ele sabe que com o Lula entrando no páreo, as atenções ficariam divididas entre o Lula e o Bolsonaro, e um candidato mais ao centro não teria a mesma força e musculatura política eleitoral para conseguir chegar a um segundo turno", completou.

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