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Vacinação no Brasil: queimar estoque da 2ª dose é 'bastante arriscado', alerta especialista

No último domingo (21), o Ministério da Saúde autorizou a entrega de todas as vacinas contra a COVID-19 aos estados e municípios para a aplicação da primeira dose. Microbiologista ouvida pela Sputnik Brasil classificou a estratégia como "bastante arriscada".
Sputnik

Anteriormente, a recomendação era de reservar metade do estoque de vacinas para não haver o risco de faltar na aplicação da segunda dose. Com a decisão, o estoque de 5 milhões de doses de vacinas que começaram a ser distribuídas no último sábado (20) poderá ser usado para vacinar 5 milhões de pessoas com a primeira dose. Antes, metade deste estoque estaria reservado para a segunda dose.

A microbiologista e presidente do Instituto Questão de Ciência, Natalia Pasternak, em entrevista à Sputnik Brasil, afirmou que a decisão de dispensar a reserva da segunda dose é muito arriscada e só seria prudente se houvesse maior previsibilidade dos acordos e das entregas das farmacêuticas.

De acordo com ela, o risco de usar todas as doses disponíveis agora é inviabilizar a entrega necessária da segunda dose, sobretudo em relação à vacina CoronaVac, que tem um intervalo menor entre as duas doses, de três a quatro semanas.

"Atrasar um pouco, uma ou duas semanas, não é um problema, mas ao mesmo tempo deixa vulneráveis as pessoas que receberam a primeira dose, e porque elas ainda não estão com o processo de imunização completo com essa vacina. Não acho que é salutar nesse momento, com esse governo, com esse Ministério da Saúde, correr um risco desses", destacou.

A especialista observou que a estratégia definida pelo Programa Nacional de Imunização (PNI) está adequada no que diz respeito à definição dos grupos prioritários, por exemplo, mas ela frisou que o problema reside na falta de vacinas.

"O PNI precisa ter vacinas, precisa de previsibilidade de entrega, precisa conseguir fazer uma programação. Enquanto isso não acontecer, não adianta colocar a culpa na estratégia, a culpa é da falta de planejamento do Ministério da Saúde e da compra de vacinas", declarou Pasternak.

Ao comentar sobre o ritmo da vacinação no Brasil, a microbiologista frisou que o PNI é um dos melhores programas de imunização do mundo e é capaz de montar uma boa campanha de vacinação. Segundo ela, a "maior falha da cobertura vacinal é a escassez de vacinas".

"Se a gente continuar neste ritmo de vacinação, a gente vai demorar pelo menos uns dois anos para conseguir vacinar a população inteira, e isso eu estou sendo bastante otimista. Então a gente precisa aumentar o ritmo, e para aumentar o ritmo a gente precisa de acordos internacionais com data de entrega", disse.

Vacinação no Brasil: queimar estoque da 2ª dose é 'bastante arriscado', alerta especialista

Segundo a especialista, com a vacinação caminhando a conta-gotas, a única ferramenta disponível agora para desafogar o sistema de saúde, diminuir as mortes e as hospitalizações, é a adoção de um lockdown rigoroso.

"A nossa única ferramenta é a estratégia de lockdown, rigoroso, implementado por três semanas, que seja realmente efetivo [...] A gente precisa desafogar o sistema público e privado de saúde, que estão colapsados, e para isso as nossas únicas medidas são as não farmacológicas, porque a vacinação ainda vai demorar para ter um impacto significativo", completou.

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